O filme “Não Entre” chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 10 de abril de 2025, trazendo uma proposta que combina crítica social contemporânea com elementos clássicos do subgênero ‘found footage’. No entanto, mesmo com um começo promissor, a produção espanhola perde ritmo ao longo da narrativa e entrega uma experiência desigual.
Dirigido com intenção, mas com execução irregular, o filme acompanha Aldo e Cristian, dois influenciadores digitais que apostam na viralização como ferramenta para ganhar relevância na internet. Após forjarem um vídeo paranormal que os alçou à fama, a dupla decide aceitar o desafio do próprio público: retornar a uma casa abandonada e, desta vez, fazer um registro “real” dos fenômenos que ocorrem por lá. O que parecia mais uma encenação para manter o engajamento rapidamente se transforma em uma experiência de sobrevivência extrema, marcada por manifestações sobrenaturais violentas e uma atmosfera de tortura psicológica constante.
Saiba o que chega aos cinemas em abril de 2025

A premissa dialoga com temas contemporâneos (vaidade digital, fake news, o apetite por sensacionalismo) mas esses elementos ficam na superfície. A crítica à cultura do conteúdo viralizado é rapidamente abandonada em nome de sustos fáceis, deixando o roteiro com duas intenções desconectadas: o comentário social e o terror visceral.
A primeira metade funciona. O ritmo é sólido, os diálogos, mesmo que artificiais em alguns momentos, ajudam a estabelecer o perfil narcisista dos protagonistas. Há um cuidado técnico interessante na construção da atmosfera: a fotografia é crua, claustrofóbica e favorece a imersão. O uso de câmeras diegéticas (como celulares e drones) é bem aproveitado no início, com cortes precisos que mantêm a tensão crescente.
No entanto, quando o filme finalmente mergulha no terror direto, a estrutura desmorona. O segundo ato depende quase exclusivamente de sustos previsíveis, muitos deles antecipáveis a longas distâncias. O design de som tenta compensar a ausência de substância com ruídos abruptos e trilha ruidosa, o que compromete o tom que vinha sendo construído. Além disso, o roteiro opta por soluções fáceis: os protagonistas fazem escolhas absurdamente ingênuas mesmo diante de sinais evidentes de perigo, e a exposição do passado da casa é jogada em tela sem sofisticação.
Os personagens também prejudicam a experiência. Aldo e Cristian são retratados de forma unidimensional, com traços irritantes que superam qualquer tentativa de empatia. A ausência de desenvolvimento emocional ou moral afasta o espectador. Em vez de torcer por sua sobrevivência, o público é levado à apatia ou, pior, ao desinteresse. Um filme de terror eficaz depende do investimento emocional nos protagonistas, e “Não Entre” simplesmente falha em provocar esse vínculo.
O terceiro ato oferece uma reviravolta que, apesar de previsível, funciona como último esforço para recuperar o interesse. É um momento em que o filme quase acerta ao flertar com o horror psicológico e o simbolismo, mas a execução apressada compromete o impacto. Há ideias boas perdidas em meio ao excesso de ruído, tanto literal quanto narrativo.
“Não Entre” tem um ponto de partida instigante, mas falta densidade, criatividade e personagens que justifiquem a jornada. O uso do formato ‘found footage’ tem bons momentos técnicos, e a ambientação é suficientemente opressiva no início, mas esses méritos se perdem diante de um roteiro fragmentado e personagens sem qualquer nuance.
A crítica social sobre a sede de fama digital e os limites éticos do conteúdo online poderia ser o grande trunfo do filme, mas é tratada como pano de fundo descartável. E no final, o terror que deveria emergir como protagonista da obra é reduzido a clichês visuais e sustos previsíveis. O saldo é um filme com uma boa premissa e execução inconstante, que promete mais do que entrega.
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