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Crítica: “Néro” (Néro The Assassin)

A França de 1504 serve como o palco sombrio e desordenado onde “Néro” acontece, um retrato que mistura violência, poder e culpa em um mundo em que os demônios internos dos personagens são tão ameaçadores quanto os monstros que habitam o imaginário da época. Criada por Allan Mauduit, Jean-Patrick Benes e Martin Douaire, a série parte de um ponto que parece simples, o de um assassino em fuga que reencontra a filha que abandonou, mas o transforma em uma jornada tortuosa sobre paternidade, redenção e maldição.

Crítica: “Néro” (Néro The Assassin)

Néro, vivido por Pio Marmaï, é um matador a serviço de Nicolas de Rochemort, vice-cônsul de Lamartine e exemplo de ambição sem freios. Sob ordens desse homem frio e manipulador, Néro elimina quem atravessa o caminho do poder, até que o destino o força a encarar a filha que deixou para trás, Perla, interpretada por Lili-Rose Carlier Taboury. O reencontro entre pai e filha rompe qualquer tentativa de neutralidade emocional que o protagonista ainda acreditava ter. É nesse ponto que “Néro” mostra sua força: ao deslocar a narrativa da violência para o dilema moral.

O universo da série é estruturado com camadas de misticismo e política. Rochemort é o vilão humano, movido por ganância e controle, enquanto a bruxa La Borgne, interpretada por Camille Razat, representa a dimensão sobrenatural e simbólica do mal. A presença dela transforma o conflito em algo quase bíblico, em que Néro e sua filha passam a ser peças de um jogo maior, conectados a profecias e à ideia de um legado amaldiçoado. A obra caminha entre o épico e o grotesco, revelando o quanto a fé, o poder e o amor paterno podem ser igualmente destrutivos.

A ambientação medieval é visualmente impressionante, e o tom da série flerta com o absurdo em alguns momentos, mas nunca perde o senso de direção narrativa. Há uma energia caótica que conduz a trama, equilibrando ação e irreverência com uma pitada de humor sombrio que remete a produções como “Marie Antoinette”, embora com uma brutalidade mais explícita. O ritmo é denso, e mesmo quando a mitologia se torna confusa, há carisma suficiente nos protagonistas para manter o espectador imerso.

O texto constrói um retrato de Néro que ultrapassa o arquétipo do anti-herói. Ele é vulnerável, falho e quase trágico. A filha, Perla, surge como um espelho que o obriga a enxergar a si mesmo, o passado que tentou enterrar e o homem que ainda pode escolher ser. O vínculo entre os dois dá à série uma camada emocional inesperada, um contraponto à violência que permeia o cenário.

“Néro” é, acima de tudo, uma história sobre herança e sacrifício. Sobre a escolha entre salvar o mundo ou salvar aquilo que restou de si mesmo. Mesmo que parte da mitologia soe confusa, o que sustenta a produção é a força dos personagens e o contraste entre o real e o sobrenatural, entre o que o homem acredita controlar e aquilo que o destino já escreveu.

Visualmente intensa e narrativamente ousada, a série se apoia em atuações consistentes e em uma direção que aposta na imersão total. Pio Marmaï entrega um protagonista denso e magnético, enquanto Louis-Do de Lencquesaing encarna com precisão o poder corruptor de Rochemort. Lili-Rose Carlier Taboury é o coração pulsante da trama, uma presença que equilibra inocência e rebeldia em meio ao caos.

“Néro” é brutal, mística e humana. Uma narrativa sobre o peso do sangue, sobre o preço de se tentar corrigir o irreparável. E, no fundo, sobre como a redenção pode vir das relações mais improváveis.

“Néro”
Ano: 2025
Direção: Allan Mauduit, Jean-Patrick Benes, Martin Douaire
Elenco: Pio Marmaï, Olivier Gourmet, Alice Isaaz, Camille Razat
Disponível em: Netflix

Avaliação: 4 de 5.
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