Poucas palavras provocam tanto desconforto quanto “problemático”. É um daqueles termos que virou muleta e, usado sem critério, pode transformar qualquer discussão em um campo minado. Pois bem, “O Bom Professor” chega justamente cercado dessa palavra, carregando consigo um tema sensível: falsas acusações de má conduta sexual contra um professor dedicado.
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O longa acompanha Julien (François Civil), o típico professor apaixonado pela literatura e pelos alunos, que vê sua rotina despencar no abismo após ser acusado injustamente por uma aluna. O efeito dominó é rápido e cruel: desconfiança dos colegas, pressão familiar, tensão crescente e um tribunal público onde boatos valem mais que provas. É um filme incômodo, claro, e talvez seja justamente por isso que funcione em algum nível. Há espaço, sim, para discutir os danos causados por acusações infundadas, sem que isso signifique desacreditar vítimas ou relativizar outras realidades.
Aliás, é curioso notar como parte do público já saiu distribuindo sentenças ao filme, como se ele estivesse propondo uma tese universal sobre denúncias falsas. Não está. Baseado em um caso real, “O Bom Professor” é o retrato claustrofóbico e particular de um indivíduo arrastado para o inferno. Não há aqui nenhuma tentativa de generalizar ou invalidar lutas legítimas. Ver problema onde não há não contribui para o debate.
O que, de fato, enfraquece a obra é seu roteiro que, ironicamente, carece de nuance. Há uma caricatura constante, uma tentativa de inflamar a tensão que beira o implausível. O envolvimento da polícia, por exemplo, parece tirado de uma fanfic de thriller jurídico, destoando da realidade burocrática e morosa desses casos. E o ponto mais desperdiçado: a personagem da aluna, Leslie, é uma oportunidade perdida. O filme não se interessa em cavar fundo suas motivações ou fragilidades, limitando-se a pintá-la como catalisadora do pesadelo do protagonista, sem aprofundar as engrenagens sociais e psicológicas que levam à mentira.
O resultado é um filme que instiga, mas falha onde poderia ser brilhante. É eficaz ao transmitir a angústia de um homem cercado por desinformação e histeria coletiva, mas deixa escapar uma análise mais robusta sobre os motivos que alimentam esse tipo de situação. Você termina sabendo que falsas acusações existem, mas sem entender muito mais além disso.
Resumindo: provoca reflexão, mas se perde totalmente no didatismo e nas caricaturas. Poderia ser mais incisivo, menos teatral. Ainda assim, está longe de ser o escândalo que alguns tentam pintar.
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