Nove anos após o lançamento do original, “O Contador 2” (2025) surpreende ao subverter expectativas. Dirigido novamente por Gavin O’Connor, o longa chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (24) apostando em uma abordagem menos soturna e mais humana, sem abrir mão da ação estilizada que consagrou o primeiro filme. A transformação da narrativa de um thriller sombrio para uma comédia de ação com forte subtexto emocional representa uma evolução significativa do material original.
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Ben Affleck retorna ao papel de Christian Wolff, contador e assassino treinado com traços de autismo, agora convocado pela agente Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson) para investigar o assassinato de seu ex-superior. A trama policial é eficiente, mas não é o verdadeiro centro da obra. O diferencial da sequência reside na relação de Wolff com seu irmão Braxton (Jon Bernthal), cuja química funciona como eixo dramático e cômico da narrativa.
A escolha de transformar a dinâmica entre os irmãos em um “buddy movie” repleto de provocações e reconciliações familiares é um acerto. Jon Bernthal brilha ao lado de Affleck, oferecendo uma performance que equilibra fisicalidade e emoção com precisão. A construção dessa parceria oferece leveza e, ao mesmo tempo, profundidade emocional, e essa reconfiguração permite que o filme explore a psique de Christian de maneira mais orgânica e respeitosa.
Diferentemente do primeiro filme, que tratava o autismo como um obstáculo narrativo e recorria a estereótipos, “O Contador 2” trata o espectro autista com empatia e autenticidade. O roteiro de Bill Dubuque apresenta nuances de comportamento que humanizam Christian, sem transformá-lo em uma caricatura funcional para a ação. O personagem se mostra introspectivo, metódico e lógico, mas agora com espaço para empatia, introspecção e até mesmo afeto.
A ação permanece como pilar estético. As cenas de combate são coreografadas com vigor, filmadas com clareza e editadas com propósito. O longa opta por uma abordagem mais limpa e menos caótica, com planos abertos e uso moderado de câmera tremida. Isso beneficia tanto o entendimento visual quanto a imersão. No entanto, é nos momentos sem ação que o filme atinge sua maior força: conversas sinceras, silêncios desconfortáveis e olhares cúmplices revelam um amadurecimento na direção e no roteiro.
O elenco coadjuvante tem menos espaço, e esse é um dos poucos pontos fracos do filme. Daniella Pineda é subutilizada, com uma personagem que aparenta ter maior importância narrativa do que efetivamente tem. A expansão do Harbor Neuroscience Institute, embora relevante para justificar a reintrodução de personagens e expandir o universo do protagonista, recorre a elementos inverossímeis que destoam do realismo controlado do restante do filme.
Apesar disso, a continuação é notavelmente bem-sucedida ao transformar o que poderia ser apenas mais um thriller de ação genérico em um estudo de personagem disfarçado de blockbuster. Há humor, há coração e há um respeito claro pelas críticas que o filme original recebeu quanto à sua abordagem do autismo.
“O Contador 2” é, essencialmente, um caso raro em Hollywood: uma sequência que evolui, aprende com seus erros e constrói algo mais sólido e significativo. Ao equilibrar ação contundente com um retrato mais humano e bem fundamentado de seu protagonista, o filme não apenas honra seu antecessor como o supera. Uma produção inesperadamente comovente sobre laços familiares, neurodiversidade e redenção pessoal e que, curiosamente, funciona melhor nas pausas do que nos disparos.
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