Bruce LaBruce nunca se contentou em simplesmente chocar: seu cinema pornográfico e transgressor opera no limite entre o politicamente provocador e o esteticamente radical. “O Intruso”, sua versão abertamente explícita de “Teorema” (1968), de Pier Paolo Pasolini, segue essa mesma lógica ao reimaginar a alegoria original sob um viés ainda mais carnal e desinibido. A abordagem de LaBruce reforça o conceito de um corpo que não apenas desestabiliza uma estrutura familiar burguesa, mas que também funciona como um catalisador político e metafísico. O filme chega aos cinemas do Brasil nesta próxima quinta-feira (20).
Saiba o que chega aos cinemas em fevereiro de 2025

A trama segue um homem misterioso que surge nu dentro de uma mala à margem do rio Tâmisa. Acolhido por uma família aristocrática londrina, ele se torna um elemento disruptivo, seduzindo um a um os membros da casa. O filme não se limita à sátira da hipocrisia da elite; ao contrário, explora o desejo como um instrumento de libertação e autodescoberta. No entanto, LaBruce expande a premissa ao introduzir uma camada de ficção científica: o protagonista não é único, mas um entre vários homens idênticos infiltrados na cidade, adicionando um caráter distópico ao seu erotismo anárquico.
Visualmente, “O Intruso” mantém a estética crua e punk característica do diretor, mas com um apuro fotográfico mais refinado que seus trabalhos anteriores. Há um uso estratégico de luz e sombra para enfatizar o caráter voyeurístico da narrativa, enquanto a montagem oscila entre o frenesi de cortes rápidos e longos planos contemplativos, reforçando o embate entre desejo e repressão. A trilha sonora, dominada por batidas eletrônicas e um design de som minimalista, amplia a sensação de hipnose e inevitabilidade da transformação que o visitante impõe àquela casa.
Ao contrário de “Teorema”, que mantinha um certo distanciamento da sexualidade como ação explícita, LaBruce não apenas expõe o sexo, mas o posiciona como linguagem central do filme. A pornografia, em sua forma mais crua, torna-se uma extensão do discurso sociopolítico, funcionando como ferramenta de subversão e questionamento das estruturas tradicionais. A ironia é que, ao radicalizar o conteúdo erótico, “O Intruso” se afasta da sutil potência metafórica do filme de Pasolini, tornando-se uma experiência mais sensorial do que reflexiva.
Ainda que o filme possa ser interpretado como um exercício de sátira extrema, ele se insere em um contexto maior de obras contemporâneas que revisitam “Teorema” sob diferentes perspectivas. Enquanto “Saltburn” (2023), de Emerald Fennell, filtrou o conceito pelo prisma da estética de luxo e da degradação moral, LaBruce reforça o caráter pornográfico e anárquico, trazendo o discurso de classe para um campo mais direto e físico. Dessa forma, “O Intruso” se posiciona como um filme que escancara o desejo e o poder como forças transformadoras, ao mesmo tempo em que testa os limites do erotismo no cinema narrativo.
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