O cinema LGBTQIA+ brasileiro tem avançado em diversidade narrativa e estética, explorando camadas de afetividade, desejo e identidade sob diferentes perspectivas. “O Melhor Amigo” segue essa tradição ao trazer um romance embalado por uma atmosfera nostálgica e musical, um diferencial dentro da filmografia queer nacional. No entanto, apesar de suas qualidades, o longa se perde em algumas escolhas formais e na superficialidade de certos temas que poderiam ser mais bem trabalhados.
O filme foi exibido hoje (26) durante um evento da produtora Vitrine. Para mais informações, basta clicar aqui.

O filme acompanha Lucas (Vinicius Teixeira), um jovem arquiteto em crise no relacionamento com Martin (Léo Bahia), que decide viajar para Canoa Quebrada e acaba reencontrando Felipe (Gabriel Fuentes), um antigo colega de faculdade. A reconexão entre os dois reabre feridas e desperta sentimentos antigos, mas o roteiro opta por um desenvolvimento mais leve, focando na estética do reencontro e no viés musical da narrativa.
O primeiro acerto está na construção do protagonista. Lucas representa um sujeito romântico deslocado do universo contemporâneo das relações mediadas por aplicativos, onde o sexo muitas vezes se torna a principal moeda de troca. Sua jornada é narrada com carisma, cores vibrantes e uma estética que remete a uma fábula pop, carregada de referências afetivas. A nostalgia aparece não apenas na trilha sonora, mas também na presença de figuras icônicas como Claudia Ohana, Mateus Carrieri e Gretchen, que adicionam camadas ao tom do filme.
No entanto, a crítica social que o longa ensaia nos primeiros atos sobre a busca pelo corpo perfeito e a fragilidade das relações acaba se dissipando ao longo da trama. A história, que poderia se aprofundar na angústia do protagonista diante de seus desejos e inseguranças, opta por um tom mais leve e previsível, deixando de lado uma complexidade que tornaria a experiência mais marcante. A gentrificação dos espaços LGBTQIA+ e a influência dos aplicativos de relacionamento são temas que poderiam ser melhor explorados para agregar camadas ao conflito central.
O aspecto musical, por outro lado, é um dos pontos altos da obra. O filme não tem medo de abraçar a linguagem dos musicais e utiliza essa gramática com competência. O primeiro número musical estabelece um alto nível de energia e serve como um convite para o espectador embarcar na proposta, que se mantém vibrante até o desfecho. A fotografia e o design de produção contribuem para essa sensação de encantamento, tornando a experiência visualmente cativante.
A dupla central, Vinicius Teixeira e Gabriel Fuentes, tem boa química e entrega performances que equilibram vulnerabilidade e desejo. Os personagens são delineados com sensibilidade, e suas incertezas ressoam com uma geração que transita entre o saudosismo de um passado idealizado e as dinâmicas aceleradas do presente.
Por fim, “O Melhor Amigo” é um filme que, apesar de suas limitações narrativas, se firma como uma produção charmosa e afetuosa dentro do cinema queer brasileiro. Deberton demonstra habilidade em criar uma obra que conversa com diferentes gerações, sustentada por uma estética envolvente e um olhar carinhoso sobre o amor e os reencontros. Se por um lado o filme poderia aprofundar sua crítica social e explorar melhor suas temáticas, por outro, sua leveza e musicalidade garantem uma experiência envolvente, que deverá sobreviver ao teste do tempo.
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