Filmes de terror, quando realmente têm algo a dizer, costumam ser mais do que gritos. São murmúrios incômodos, fantasmas que ocupam os cantos da linguagem, ruídos que escapam da narrativa principal e criam fendas no discurso. “O Pranto do Mal” se inscreve nesse espectro com precisão, entregando um terror que não está preocupado em agradar quem só busca susto fácil ou lógica implacável, mas sim em tensionar o próprio gênero a partir de uma perspectiva que entende que o medo, para muitas mulheres, nunca foi ficção.
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Há um projeto estético claro: trabalhar o sobrenatural como linguagem de denúncia, e não apenas como enfeite. A dor aqui não é pontual, é hereditária. Não se trata de uma entidade demoníaca, mas de um sistema inteiro que assombra e repete padrões com novas formas e os mesmos efeitos. E é justamente na recusa de resolver tudo com respostas prontas que o filme ganha potência. A narrativa fragmentada, os saltos temporais, a imprecisão do real tudo isso forma uma estrutura que se sustenta mais pelo sentimento que provoca do que pela clareza que oferece.
É um projeto que caminha sobre uma linha instável: ora parece um exercício de estilo experimental, ora flerta com o drama psicológico clássico, e ainda assim, evita cair nas armadilhas mais comuns do terror europeu recente. Há uma inteligência formal que equilibra ritmo e atmosfera, mesmo quando o roteiro parece sugerir mais do que consegue desenvolver plenamente.
O resultado é um filme que incomoda pela falta de fechamento, mas instiga exatamente por isso. “O Pranto do Mal” opta por não explicar o trauma, e sim reproduzi-lo na forma como nos desloca, na maneira como suas imagens desestabilizam, na sensação de que estamos dentro de um ciclo que não se encerra. O mal, aqui, não tem rosto, e talvez esse seja o ponto. Ele só se revela nas frestas, nos ruídos, no choro que só algumas pessoas conseguem escutar.
Tecnicamente, a direção é segura e proposital. As decisões de montagem e fotografia ajudam a construir um universo que parece ao mesmo tempo íntimo e inalcançável. Mas o que mais se destaca é como o filme aposta no silêncio e na sugestão como armas narrativas, em vez de recorrer ao grito. E isso é mais raro do que parece, principalmente em uma indústria que ainda insiste em transformar dor em espetáculo.
No fim das contas, “O Pranto do Mal” talvez irrite quem busca apenas susto, e desconcerte quem espera por resoluções fáceis. Mas quem estiver disposto a sentir o desconforto até o fim, vai perceber que o horror mais eficaz é aquele que não termina nos créditos. Ele continua reverberando. Como um eco ancestral. Ou como um pranto que nunca parou de ser escutado.
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