Há algo de particularmente frustrante em filmes que anunciam ousadia e entregam repetição. “O Ritual” se apresenta com toda a pompa de um grande evento sobrenatural, uma história baseada em registros reais, ambientada num dos exorcismos mais documentados da história. A promessa é alta, o peso dramático também. Mas quando a execução não sustenta a proposta, o resultado inevitável é a apatia.
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É um terror que parece existir num vácuo criativo. Tudo soa calculado, confortável demais dentro de fórmulas que o gênero já esgotou. A atmosfera se constrói com base em truques visuais previsíveis, ruídos distorcidos e a velha lógica do susto em três atos. O problema é que não há pulso narrativo capaz de sustentar o medo, porque o medo só existe quando há verdade, tensão, algo que incomode além da superfície. E o filme nunca alcança esse lugar.
A construção dramática não encontra solidez. A câmera até tenta criar um olhar mais sensorial, mas as escolhas estéticas se tornam cansativas rápido demais. O excesso de zoom, a incapacidade de sustentar um plano ou de deixar o silêncio gerar desconforto revelam uma direção sem convicção. É tudo muito limpo, muito mecânico, muito ansioso para entregar o próximo susto sem se importar se existe algo para sustentar o anterior.
A encenação da possessão segue todos os protocolos do gênero, como se houvesse um manual a ser seguido. Do cenário às contorções, do latim ao grito abafado, da cruz que cai ao olhar invertido. Não há invenção, nem ironia, nem releitura. É apenas mais um filme sobre exorcismo tentando simular urgência onde não existe. E isso esvazia completamente qualquer peso espiritual, simbólico ou emocional que poderia emergir da história.
“O Ritual” tenta disfarçar sua falta de substância com um verniz de fidelidade histórica. Mas quando o cinema depende apenas da origem real do que narra para justificar sua existência, algo já está errado desde a base. O que se vê é um desfile de cenas arrastadas, interpretações no piloto automático e uma série de diálogos que parecem escritos com base em outros filmes, não na experiência do que se quer dizer aqui.
É um projeto que parecia ter potencial para discutir fé, culpa, trauma, confronto com o inexplicável. Mas não mergulha em nenhum desses eixos. Fica na superfície, como um reflexo distorcido de tudo que o cinema de terror já entregou em momentos melhores. E, por isso, o impacto que poderia ser profundo se torna apenas ruído passageiro. Esquece-se logo depois dos créditos finais.
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