Existe um momento curioso na trajetória de muitos astros de ação em que a idade se torna um ingrediente extra na coreografia. O chute giratório perde amplitude, a montagem disfarça o dublê com pressa, o corpo já não responde com a mesma precisão. Mas é aí que entra Jean-Claude Van Damme em “O Vingador da Iugoslávia 2”. O que seria apenas mais um produto da linha direta para streaming se transforma num exercício brutal de sobrevida cinematográfica. E acredite: funciona.
Do mesmo diretor de “Noites Brutais”, “A Hora Do Mal” estreia em agosto no Brasil

Van Damme assume o protagonismo com um tipo de entrega que beira o inconsequente. O roteiro segue aquele modelo genérico que gruda espionagem internacional em relações familiares só para dar sentido a perseguições e tiroteios. É raso, é rápido e, de certa forma, é isso que torna o filme digerível. Não há pretensão de sofisticação. A estrutura narrativa é só um trilho para levar o público de cena de ação a cena de ação, sem floreio, sem pausa, só porrada.
A estética do longa é marcada por uma câmera nervosa, daqueles enquadramentos que mal deixam entender quem está socando quem, mas compensam na intensidade. A violência gráfica salta aos olhos com um nível de sadismo que, curiosamente, não parece gratuito. Ao contrário, ela imprime um peso físico que falta em muitas produções do mesmo calibre. O filme sabe que não tem orçamento, mas sabe também onde investir: na dor do impacto.
Há um esforço genuíno para manter Van Damme no centro da ação, mesmo quando o dublê claramente assume nas costas. E tudo bem. O que importa é que ele está lá, chutando vidros, esmagando crânios em móveis e sangrando em câmera. Não é sobre realismo, é sobre presença. E Van Damme ainda tem de sobra.
Visualmente, o filme é simples, quase rústico. Não se apoia em CGI exuberante nem em locações chamativas. Usa corredores apertados, apartamentos comuns e becos sujos como palco para confrontos sangrentos. A brutalidade é o espetáculo. A coreografia é crua, direta, sem floreio. E esse despojamento joga a favor do filme.
Apesar de ser tecnicamente limitado, “O Vingador da Iugoslávia 2” entrega mais do que promete. O título sugere um festival de clichês, mas o que se encontra é um trabalho eficiente dentro da proposta. Há uma noção de ritmo bem resolvida, sem enrolação e sem aquela necessidade de justificar tudo com diálogos expositivos. É ação pela ação, com aquele tempero sujo que falta em muito blockbuster milionário.
É claro que o filme carrega seus tropeços. Os efeitos são modestos, os figurantes escorregam na naturalidade, e o roteiro parece ter sido escrito num guardanapo. Mas o cinema de ação B vive disso. Da urgência. Da fisicalidade. Da energia bruta. E é nesse caos que Van Damme ainda reina com alguma autoridade. Aos 63 anos, ele talvez não precise mais provar nada, mas parece disposto a fazer isso a cada sequência.
“O Vingador da Iugoslávia 2” é o tipo de filme que só funciona para quem entende o gênero. Ele não tenta se elevar, não tenta parecer maior do que é, não tem vergonha da própria simplicidade. E nisso está sua honestidade. Quem procurar refinamento vai sair frustrado. Mas quem quiser 90 minutos de pancadaria bem montada, vai sair com um sorriso de canto de boca e talvez até um pouco impressionado.
Van Damme pode estar mais lento, mas ainda sabe onde colocar o chute. E enquanto houver móveis para esmagar vilões, ele vai continuar entregando.
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