“On Swift Horses” apresenta um triângulo amoroso envolto em segredos, paisagens ensolaradas da Califórnia do pós-Guerra da Coreia e uma atmosfera melancólica que tenta, com sensibilidade, combinar romance reprimido com tensão familiar. Contudo, a direção de Daniel Minahan se vê dividida entre o desejo de construir uma narrativa intimista e o uso de uma estética hiperdigitalizada que compromete o potencial poético do material original.
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A adaptação do romance de Shannon Pufahl parte de uma premissa rica: Muriel, vivida por Daisy Edgar-Jones, inicia uma vida conjugal com Lee (Will Poulter), mas vê sua estabilidade emocional abalada com a chegada de Julius (Jacob Elordi), o irmão carismático e imprevisível do marido. A tensão entre os personagens é sustentada por performances contidas, especialmente de Edgar-Jones, que compõe Muriel como uma figura observadora, deslocada, e ao mesmo tempo seduzida por novas possibilidades de liberdade e desejo.
Apesar disso, há um descompasso entre a proposta da narrativa marcada por silêncios, subtexto e construção de atmosferas e a escolha estética da produção. A nitidez extrema das imagens, captadas em resolução 8K, transforma o que poderia ser um retrato nostálgico em algo excessivamente clínico. A textura visual, sem grão, sem opacidade e sem mistério, impede que a direção de arte, por mais refinada que seja, evoque um tempo passado de maneira convincente. Cada superfície parece polida demais, cada tecido sem uma dobra fora do lugar. Em um filme que depende tanto do que está oculto desejos não ditos, olhares interrompidos, segredos disfarçados, essa clareza visual excessiva acaba sendo contraproducente.
Os figurinos seguem o mesmo padrão. Pensados para reforçar a elegância contida da década de 1950, os trajes parecem saídos de um catálogo. As escolhas transmitem uma teatralidade artificial que contrasta com a proposta de realismo emocional e torna certos momentos involuntariamente cômicos. Uma sequência específica envolvendo Muriel e Sandra (Kiersey Clemons), em que a precisão dos figurinos entra em conflito direto com a casualidade do diálogo, revela esse problema com clareza. O artifício se sobrepõe à vivência.
Ainda assim, o roteiro de Bryce Kass consegue preservar parte da força da obra original. Há uma progressão emocional cuidadosa no envolvimento entre Muriel e Julius, construída com gestos discretos e vulnerabilidades explícitas. As cenas de sexo são notavelmente eficazes não por seu teor gráfico, mas por captarem o desconforto, a entrega e a confusão que cercam relações que fogem ao padrão. A direção de Minahan mostra maturidade nesses momentos, evitando fetichizações e priorizando a tensão emocional que antecede o toque.
Os méritos do filme estão, sobretudo, no desempenho dos atores e na estrutura dramática. Jacob Elordi, como Julius, evita a caricatura do forasteiro encantador ao sugerir, em expressões sutis, um passado marcado pela perda e pelo deslocamento. Will Poulter oferece um contraponto contido e melancólico. Já Edgar-Jones articula com firmeza o dilema de uma mulher entre o conformismo matrimonial e a atração por uma nova subjetividade.
“On Swift Horses” tinha os elementos para se tornar um drama romântico com potencial de permanência. O texto é delicado, os personagens são construídos com humanidade e há honestidade nas emoções encenadas. No entanto, as decisões formais do filme sabotam sua atmosfera. A obsessão pela perfeição plástica e pela ultra-definição impede que o espectador se perca no tempo, ou se deixe afetar pela névoa dos sentimentos mal resolvidos. A intimidade que o filme busca depende do mistério, da penumbra, da imperfeição e isso, ironicamente, a tecnologia empregada parece incapaz de compreender.
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