Há filmes que parecem surgir de uma pergunta simples sobre o próprio gênero que ocupam, e “Onda de Violência” é exatamente esse tipo de obra. A história se organiza em torno de um assassino profissional que vira alvo da própria organização depois que seus encontros em Workaholics Anonymous levantam suspeitas de traição. O resultado é um universo em que atiradores, facções e colegas de profissão se comportam como um grupo ressentido diante de alguém que faltou ao evento social errado. É quase uma sátira involuntária sobre a exaustão moderna travestida de ação.

A presença de Michael Jai White sustenta o filme com o carisma habitual, mas existe uma sensação constante de que o ator está segurando o piano enquanto o restante da produção decide qual música tocar. O longa tenta recriar a energia de thrillers dos anos 90 com estética estilizada e ritmo acelerado, como se bebesse diretamente de fontes que vão de Guy Ritchie a ecos tardios de filmes de assalto. O problema é que o estilo não acompanha a ambição. As cenas de luta até parecem promissoras no papel, mas a câmera insiste em uma proximidade sufocante, repleta de movimentos instáveis que fragmentam o impacto visual. O filme possui ação, mas raramente possui potência.
O curioso é descobrir que “Onda de Violência” nasceu muito mais como vitrine tecnológica do que como narrativa. Toda a produção aconteceu dentro de um estúdio equipado com volume backgrounds, iniciativa financiada por uma organização canadense interessada em mostrar sua nova estrutura. A estética limitada do espaço controlado deixa a obra com uma sensação constante de confinamento. Nada chega a soar irreal, mas tudo parece pequeno demais, quase como se o filme inteiro acontecesse entre paredes invisíveis. A ação pede amplitude, mas o cenário responde com contenção.
A base narrativa tenta extrair humor de sessões de terapia para profissionais do crime, brincando com a ideia de uma masculinidade letal tentando lidar com questões de produtividade. Funciona em conceito, porém se dissolve quando a execução abraça o óbvio. Os personagens que cercam Pete surgem com identidades exageradas, mas sem uma construção que sustente a excentricidade. Não existe o brilho que transforma caricatura em personalidade. O elenco de apoio faz o possível com o que recebe, embora seja inevitável perceber que apenas Michael Jai White realmente carrega a energia do filme.
Há momentos em que o longa tenta resgatar a essência de produções como “Bullet Train”, buscando humor caótico, ação desenfreada e um mosaico de antagonistas peculiares. A distância entre intenção e realização revela um filme que reconhece referências, mas não domina suas ferramentas. As lutas têm boas ideias, as coreografias aparentam esforço real, mas a filmagem limita a contundência de cada movimento. A sensação é de um quebra-cabeça em que as peças até se encaixam, porém pertencem a caixas diferentes.
Mesmo com tropeços, há uma honestidade peculiar em “Onda de Violência”. O longa sabe que não entrega a grandiosidade que promete, mas também não tenta mascarar o que é. Existe algo quase simpático na forma como o filme abraça sua própria limitação e segue adiante com determinação. Pode não alcançar a força de produções de Scott Adkins ou de thrillers de referência, ainda que carregue a ambição de se posicionar ao lado deles. Fica no meio do caminho, entre o esforço e o improviso.
Para quem acompanha Michael Jai White, existe um encanto em observar como o ator se doa mesmo quando o material não corresponde. A obra entrega o suficiente para uma sessão despretensiosa, principalmente para quem gosta do gênero e busca algo rápido, direto e consciente de sua própria natureza. Só não espere mais profundidade do que o próprio título sugere. A violência existe, as ondas se formam, mas o impacto se dilui antes de atingir a praia.
“Onda de Violência”
Direção: Michael Hamilton Wright
Elenco: Michael Jai White, Aimee Stolte, Aleks Paunovic, Alex Mallari Jr., Damon Runyan, Dawn Olivieri, Kyle Bailey, Sala Baker
Disponível em: Netflix
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