O cinema vive de obsessões. E às vezes, ele se rende a elas de maneira preguiçosa. “Opus” tenta construir uma crítica sobre a idolatria da imagem, o culto à celebridade, a devoção que cega, mas tropeça no mesmo palco que pretende incendiar. É um filme que se aproxima perigosamente do objeto que critica, sem conseguir superá-lo.
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A estrutura até parece sedutora no papel: uma jornalista, um mistério, um culto, um ícone desaparecido. Mas falta à obra a coragem de ir além da estética, de cavar a própria pulsação. O filme se contenta em repetir os rituais já consagrados por outros thrillers da A24, como se isso bastasse para alcançar relevância. Existe uma distância fria entre intenção e execução, e essa frieza contamina tudo.
As imagens são polidas, os espaços são carregados de simbologia, a trilha sabe onde apertar. Mas algo essencial nunca acontece. A narrativa não pulsa, não empurra, não corrompe o espectador como deveria. A trama se arrasta até o último ato como se estivesse mais preocupada em parecer provocativa do que em realmente provocar. O cinema precisa querer morder, não apenas abrir a boca.
Mesmo nos momentos em que flerta com o absurdo ou com o humor, o filme parece contido, quase hesitante. Há lampejos de ironia, mas nenhuma real disposição para desestabilizar ou desconstruir o gênero que o molda. O resultado é um thriller que soa limpo demais, previsível demais, com mais pose do que perigo.
E tudo isso seria mais digerível se houvesse, no centro, um coração. Se os personagens tivessem camadas, se o olhar da protagonista nos oferecesse mais que um ponto de fuga. Mas o que encontramos é uma engrenagem funcional, girando em piloto automático, onde até mesmo os delírios parecem ensaiados. A excêntrica energia de certos nomes do elenco tenta empurrar algo para frente, mas o que se vê é mais ruído que substância.
“Opus” quer comentar o vazio, mas acaba sendo parte dele. Um filme que busca dizer algo sobre o vício em narrativas e termina preso na sua própria. A intenção era forte. Mas entre o conceito e o impacto, ficou faltando alma.
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