A segunda temporada de “Os Bucaneiros” quer crescer, amadurecer, virar gente grande. E consegue. Mas a que custo? Aquela energia quase debochada que pulsava no início da série, com americanas cheias de dinheiro invadindo a aristocracia britânica com vestidos coloridos, risadas altas e ideias ainda mais ousadas, dá lugar a um clima mais pesado, silencioso e muitas vezes sombrio. A série troca o charme da provocação juvenil por uma carga dramática que, embora legítima, por vezes parece esmagar a alma que a fez funcionar.
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O que antes era uma comédia de costumes, virou uma tentativa de mergulho psicológico. Só que esse mergulho raramente chega ao fundo. As personagens centrais agora estão divididas, enfrentando casamentos opressivos, fugas, segredos familiares e a dura constatação de que crescer significa se afastar. A amizade que era o coração da série vira plano de fundo, quase um eco do que já foi. E quando as cinco protagonistas finalmente dividem uma cena, a espontaneidade desaparece, substituída por diálogos que soam mais terapêuticos que naturais.
Ainda assim, é inegável que existe ambição. A série não se contenta em repetir o que deu certo, e isso exige coragem. A forma como aborda os limites da liberdade feminina dentro da sociedade vitoriana é mais afiada. O arco de Jinny, em especial, não alivia para o espectador. Ela sofre, se esconde, tenta escapar de um casamento sufocante, enquanto o roteiro não mascara o peso real de suas escolhas. O mesmo vale para a mãe das irmãs, que tenta se divorciar e enfrenta um sistema jurídico brutalmente contra ela. Nesse sentido, “Os Bucaneiros” dá um passo importante ao transformar a crítica feminista em motor de trama, não apenas em discurso.
Visualmente, continua deslumbrante. Os figurinos são detalhistas, os bailes ganham um frescor novo com festas em jardins de fadas, máscaras, tecidos flutuantes e paletas que flertam com o delírio romântico. Mas nem a beleza visual consegue esconder que a série perdeu parte da sua leveza. O riso fácil, os flertes inconsequentes e a efervescência que marcaram a primeira temporada aparecem apenas como resquícios. Mesmo os romances agora são pesados, marcados por inseguranças, mentiras e decisões que mais irritam que emocionam.
Há também um certo esgotamento narrativo. O uso repetitivo de segredos como estrutura dramática fragiliza a fluidez dos episódios. Toda hora há algo não dito, um bilhete escondido, uma conversa interrompida. Isso enfraquece a coerência interna da trama e afasta o espectador, que começa a enxergar os movimentos do roteiro com antecedência demais.
Ainda assim, há momentos de respiro. Uma ida a Nova York quebra a monotonia estética. As cenas iniciais entre Guy e Jinny trazem uma química diferente, e há um esforço visível em expandir os limites do universo da série. “Os Bucaneiros” tenta se reinventar e, embora nem sempre acerte o tom, merece ser louvada por isso. É uma obra que entende que seus personagens precisam evoluir, mesmo que esse processo seja doloroso para todos nós que nos encantamos por elas na primeira temporada.
No fim, o brilho da juventude deu lugar ao peso do amadurecimento. E talvez seja exatamente essa a proposta. Mesmo quando a narrativa escorrega, ela tenta dizer algo verdadeiro sobre o que significa crescer em um mundo onde o feminino é sempre condicionado, moldado e, às vezes, punido. Se “Os Bucaneiros” perderam parte da diversão no caminho, talvez seja porque agora estão mais ocupadas tentando sobreviver.
“Os Bucaneiros“
Criado por Katherine Jakeways
Com Kristine Frøseth, Alisha Boe, Grace Ambrose
Disponível em Apple TV+ com novos episódios toda quarta-feira
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