Hollywood volta a apostar na nostalgia de animes consagrados com uma adaptação que tenta capturar a essência de uma das franquias mais queridas do Japão. Neste caso, o resultado entrega mais ruído do que substância. “Os Cavaleiros Do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo” dirigido por Tomek Bagiński mira em um público global, mas tropeça em quase todos os pilares essenciais para dar vida à mitologia rica e dramática de Masami Kurumada. O filme de 2023 segue em alta no catalogo do Prime Video.
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A narrativa gira em torno de Seiya (Mackenyu), um lutador de rua com habilidades latentes que descobre ser parte de uma antiga linhagem de guerreiros cósmicos. Quando cruza o caminho de Alman Kido (Sean Bean), é convocado a proteger Sienna (Madison Iseman), a reencarnação da deusa Atena. O arco é previsível e sobrecarregado de diálogos expositivos que, além de comprometerem o ritmo, enfraquecem o investimento emocional do espectador.
O maior problema está no texto. O roteiro, co-assinado por Josh Campbell, Matt Stuecken e Kiel Murray, parece dividido entre agradar fãs antigos e introduzir o universo para iniciantes, falhando nos dois. A construção do mundo é truncada e dependente de blocos de informação despejados sem elegância, o que afasta qualquer sensação de mistério ou descoberta. A complexidade do cosmos dos Cavaleiros, que combina astrologia, mitologia grega e um forte código de honra, é reduzida a frases genéricas sobre destino e poder interior.
Mackenyu até entrega fisicamente o que se espera de um herói de ação, mas carece de material para desenvolver qualquer profundidade dramática. Sean Bean, habitual em papéis paternais e de autoridade, está visivelmente limitado por diálogos artificiais. O caso mais gritante, porém, é o de Nick Stahl, cujo personagem parece deslocado em tom e função. Famke Janssen, sempre competente, se vê presa em um papel caricato que exige dela mais do que o roteiro é capaz de justificar.
As cenas de ação até demonstram algum cuidado coreográfico e são o único momento em que o filme parece ganhar fôlego. No entanto, mesmo nesses trechos, a direção peca pelo excesso de cortes e o uso inconsistente de computação gráfica. O design dos cosmos e armaduras tenta homenagear os elementos visuais do mangá, mas a execução digital os torna visualmente incoerentes, variando entre o aceitável e o esteticamente desastroso.
A trilha sonora de Yoshihiro Ike tenta elevar a grandiosidade da narrativa, mas esbarra em uma mixagem que prioriza efeitos sonoros superdimensionados e perde nuances importantes nas cenas de maior carga emocional. Há, em momentos isolados, lampejos de uma intenção épica que jamais se concretiza.
Adaptar uma obra como Saint Seiya exige uma compreensão mais sensível da jornada do herói, do simbolismo envolvido e da fidelidade ao espírito trágico e idealista da franquia original. Este filme entrega apenas uma carcaça estilizada, artificial e superficial. O resultado é um blockbuster genérico, com ecos de franquias hollywoodianas que seguem fórmulas recicladas e sem alma.
Mesmo que o objetivo fosse servir como porta de entrada para novos públicos, a execução compromete a experiência. Para os fãs, resta a frustração de ver uma mitologia tão rica ser reduzida a um espetáculo plástico. Para os não iniciados, a pergunta inevitável será por que essa história foi considerada digna de ser contada em primeiro lugar.
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