A sequência de “Um Pequeno Favor” abandona qualquer pretensão de suspense refinado ou comédia de humor ácido e mergulha de cabeça em uma confusão tonal que parece saída de um brainstorming mal filtrado. “Outro Pequeno Favor” leva Emily Nelson (Blake Lively) e Stephanie Smothers (Anna Kendrick) até Capri para um casamento luxuoso, mas o que poderia ser uma sátira elegante sobre o mundo das aparências e da criminalidade de colarinho branco se converte num desfile de absurdismos encadeados com pouca coesão narrativa.
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A ambientação na ilha italiana é usada como pretexto para excessos visuais e cenográficos que tentam compensar o vazio estrutural do roteiro. O filme recorre a mafiosos caricatos, reviravoltas arbitrárias, traições rasas e ganchos que parecem reciclados de novelas mexicanas e thrillers de streaming genérico. O tom, instável do início ao fim, oscila entre o camp involuntário e o melodrama desengonçado. Nada parece levar a lugar algum, e a cada nova tentativa de parecer ousado, o filme se revela ainda mais destituído de direção criativa.
Ainda assim, há resquícios de uma boa ideia: a química entre Kendrick e Lively permanece funcional. Suas interações oferecem momentos pontuais de leveza, flertando com a possibilidade de uma comédia criminal autoirônica. Porém, a falta de ritmo e a saturação de personagens secundários estereotipados minam qualquer chance de evolução consistente. A dupla se perde num mar de subtramas que se atropelam em busca de impacto, mas resultam em pura superficialidade.
A suposta sátira ao universo dos casamentos milionários, da influência mafiosa ou das dinâmicas femininas de poder não ultrapassa a superfície. Tudo é entregue por meio de diálogos artificiais e cenas que soam improvisadas, mas sem timing cômico ou dramaticidade. A tentativa de soar irreverente naufraga em piadas sem graça e cenas de ação inverossímeis, como o momento em que um drone barato vira arma de ataque, um ponto de virada tão risível quanto revelador da falta de critério narrativo.
Visualmente, o filme aposta alto no figurino e nos cenários, mas tudo permanece plástico e inerte. O excesso de maquiagem estética não disfarça o conteúdo raso, e o resultado é uma experiência que jamais encontra equilíbrio entre a paródia e o suspense, entre o estilo e o conteúdo.
“Outro Pequeno Favor” representa o tipo de continuação que ignora completamente o que fez o filme original funcionar (ainda que modestamente) para investir em um espetáculo de exageros descompromissados com qualquer lógica interna. Nem mesmo como entretenimento escapista o longa se sustenta: falta-lhe ritmo, tensão, e principalmente, um mínimo de autenticidade. Um thriller que abdica do próprio gênero, transforma o mistério em ruído e encerra com um gosto agridoce de oportunidade desperdiçada.
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