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Crítica: “Ozzy: No Escape From Now”

Há algo de quase mítico em ver um corpo lutar contra o próprio tempo. Em “Ozzy: No Escape From Now”, o lendário vocalista do Black Sabbath deixa o palco das lendas para habitar o da vulnerabilidade. O documentário dirigido por Tania Alexander é um retrato cru, humano e profundamente emocional do homem que sempre desafiou a morte, e que agora precisa encará-la de frente.

Crítica: “Ozzy: No Escape From Now”

A narrativa segue Ozzy em seus últimos anos de vida, enfrentando problemas de saúde severos enquanto se prepara para um último show em Birmingham, sua cidade natal. Há algo de poético nesse retorno. O garoto perdido que saiu da cidade industrial para conquistar o mundo volta ao ponto de origem, não mais como o Príncipe das Trevas, mas como um homem exausto tentando se despedir do altar que o tornou eterno.

O filme mergulha em camadas íntimas de Ozzy e Sharon, mostrando o casal dividido entre a força de continuar e a dor de aceitar o fim. É devastador assistir dois sobreviventes da própria mitologia enfrentando a realidade com tanto amor, raiva e cansaço. A câmera capta os silêncios, os olhares, as pausas que dizem mais do que qualquer entrevista. Há momentos em que a vulnerabilidade de Ozzy se confunde com a grandeza de sua jornada como se o palco fosse a última catedral e a música, a sua forma de oração.

As participações de Andrew Watt, Chad Smith e Billy Corgan adicionam camadas de reverência e testemunho. São vozes que reconhecem em Ozzy mais do que um ícone do metal: veem nele um símbolo de resistência. Ainda assim, o documentário deixa lacunas visíveis, principalmente pela ausência de depoimentos mais consistentes dos ex-integrantes do Black Sabbath. A falta de Bill Ward e Geezer Butler pesa. O que se tem é uma homenagem contida, que parece segurar as lágrimas até o último frame.

O encerramento, abrupto e desconfortável, funciona quase como um espelho da própria vida de Ozzy. Depois de tantas idas e vindas, o corte final surge sem aviso, como se o tempo tivesse, enfim, vencido o homem que nunca aceitou parar. A decisão de incluir breves imagens de seu funeral logo após o clímax soa apressada, quase indelicada. Mas, paradoxalmente, isso também reforça o impacto da trajetória mostrada até ali o limite entre o espetáculo e o silêncio.

“Ozzy: No Escape From Now” não é um tributo polido. É uma ferida aberta. É um filme sobre a teimosia da alma, sobre o corpo que falha e o espírito que insiste. Ver Ozzy subir ao palco uma última vez é como assistir a um deus cansado tentando relembrar o som da própria criação. Ele já não grita, mas o eco de sua história continua a reverberar.

Talvez o que emocione tanto não seja o adeus, e sim o que vem antes dele: o esforço, a luta, a entrega. Porque no fim, Ozzy não canta para viver. Ele vive para cantar mesmo que cada nota custe o pouco que lhe resta.

“Ozzy: No Escape From Now”
Ano: 2025
Direção: Tania Alexander
Elenco: Ozzy Osbourne, Sharon Osbourne
Disponível em: Paramount+

Avaliação: 4 de 5.
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