Existe um tipo de cinema que aposta menos no espetáculo e mais na escuta. “Palmer” é esse tipo de filme. Sua força não está em grandes reviravoltas nem em artifícios de roteiro, mas na contenção emocional que conduz cada personagem e cada plano. Dirigido por Fisher Stevens, o longa entrega um estudo sobre reintegração, cuidado e masculinidade ferida, sem a necessidade de exagerar no sentimentalismo. É um filme que respeita o silêncio e confia na delicadeza como elemento de tensão.
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A estrutura é simples e precisa. Acompanhamos a jornada de um homem tentando reconstruir sua vida após doze anos de prisão. Não há reinvenção narrativa, mas a construção dramática é segura o bastante para tornar cada pequeno gesto significativo. Stevens trata a trama como um terreno fértil para o que realmente importa: as relações humanas e suas fragilidades.
Justin Timberlake, longe das aparições caricatas ou do glamour do estrelato, entrega aqui uma atuação sólida, contida, sem vaidade. Ele assume o papel com dignidade, transmitindo o desconforto de alguém que carrega culpa sem precisar verbalizá-la o tempo todo. Sua performance sustenta um arco de redenção que, felizmente, não recorre a atalhos morais nem a discursos prontos. É um personagem que aprende na escuta, e essa escuta tem corpo e consequência.
Mas é na presença de Sam, interpretado por Ryder Allen, que o filme ganha contorno definitivo. Mais do que apenas o catalisador da transformação de Palmer, o garoto funciona como espelho da rejeição social em outra escala, mais precoce e mais cruel. O roteiro evita o caminho da caricatura e entrega um personagem infantil complexo, afetado não pela sua identidade em si, mas pela reação do mundo à sua existência.
“Palmer” acerta ao tratar essas camadas de exclusão de forma naturalizada, sem didatismo. A narrativa não impõe lições de moral, ela oferece convivência. Nesse aspecto, a direção se revela ainda mais precisa. Não há cenas projetadas para arrancar lágrimas. O filme prefere trabalhar com desconfortos leves, frustrações silenciosas, gestos de afeto que se dão na entrelinha.
A montagem respeita o tempo dos personagens. A fotografia aposta em tons quentes e planos mais fechados, o que ajuda a criar intimidade, mesmo quando o ambiente ainda é hostil. A trilha sonora surge como apoio, sem manipular a emoção, o que contribui para o equilíbrio do todo.
“Palmer” funciona porque nunca tenta ser maior do que sua premissa. E é justamente por isso que cresce. É um filme de margens, feito à sombra dos grandes dramas hollywoodianos, mas que se sustenta pela consistência de sua proposta. Ao invés de discursos, entrega convivência. Ao invés de redenção fácil, entrega responsabilidade.
Na era da saturação narrativa, onde tudo precisa ser urgente, extraordinário e viralizável, há algo profundamente necessário em um filme como este. “Palmer” aposta no banal, no cotidiano, nas relações construídas com paciência. E nessa aposta, encontra sua força.
Título: “Palmer”
Direção: Fisher Stevens
Elenco: Justin Timberlake, Juno Temple, June Squibb
Disponível em: Apple TV+
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