A tentativa de reinventar o imaginário infantil dentro de molduras sangrentas segue seu curso, e agora o alvo é “Peter Pan”. O terceiro episódio do chamado Twisted Childhood Universe tenta explorar o potencial simbólico da Terra do Nunca através do horror, mas o resultado é um filme com mais intenção estética do que construção dramática real. “Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca” flerta com uma ideia interessante: e se os sonhos da infância fossem apenas uma cortina para vícios, traumas e obsessões mal resolvidas? A premissa é atraente. A execução, nem tanto.
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A proposta aqui é revestida de um verniz sombrio que raramente se sustenta. A atmosfera se esforça para parecer sufocante, mas recai em uma estética de escuridão genérica, repetitiva, que depende demais da baixa iluminação e dos cenários em ruínas. Há um conflito visível entre a ambição de criar um universo grotesco e os recursos técnicos limitados para concretizá-lo, e isso atravessa quase todos os setores da produção. Do design de produção à fotografia, tudo parece operar no limite entre o funcional e o amador.
A direção de Scott Chambers revela uma dificuldade em estabelecer o tom do filme. Em alguns momentos, o longa tenta se levar a sério demais. Em outros, abraça o ridículo com uma convicção estranha. Essa indecisão tonal compromete a coerência narrativa, deixando a sensação de que o filme nunca se decide entre o trash assumido ou a fábula macabra. O roteiro, por sua vez, é irregular. Há ideias interessantes sobre perda, culpa e decadência, mas elas aparecem diluídas em diálogos pobres, personagens subdesenvolvidos e cenas arrastadas. Nada parece de fato construído para gerar tensão, apenas para sustentar a moldura do pesadelo.
A atuação de Martin Portlock, que assume a figura central do Peter Pan distorcido, tenta emular certo arquétipo do vilão excêntrico, mas sem a densidade psicológica necessária para fazer a performance funcionar. Há uma imitação superficial de traços já consagrados por outros personagens icônicos do cinema, o que tira qualquer autenticidade da proposta. O restante do elenco transita entre o aceitável e o inexpressivo, o que apenas reforça o vazio dramático que permeia o filme.
Tecnicamente, alguns pontos se salvam. Os efeitos práticos usados nas cenas de violência são o aspecto mais bem-resolvido da obra, entregando algumas imagens impactantes que sustentam o interesse pontualmente. No entanto, a montagem é inconsistente, quebrando o ritmo da narrativa e comprometendo a imersão. A segunda metade do filme, especialmente, sofre com esse problema, tornando o percurso cansativo e previsível.
É possível enxergar um desejo de subverter o clássico de J. M. Barrie, mas a subversão aqui se dá sem profundidade simbólica. Transformar personagens infantis em vilões sanguinários não é o bastante para construir um comentário relevante sobre infância, nostalgia ou trauma. O filme se contenta com o choque superficial, quando poderia escavar camadas mais densas do mito original. O que sobra é uma colagem de elementos do terror moderno, alguns mais eficazes, outros simplesmente descartáveis, unidos por uma narrativa frouxa e pouco inspirada.
Ainda assim, entre erros e tentativas frustradas, “Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca” pode ser visto como um avanço técnico dentro do seu próprio universo. Há sinais de que a equipe por trás da franquia está tentando encontrar alguma identidade. Falta foco, falta roteiro, falta consistência, mas há, pelo menos, uma inquietação criativa em gestação. Talvez não seja o suficiente para transformar a experiência em algo memorável, mas é um começo de reformulação. E considerando o ponto de partida dessa franquia, isso já é um progresso.
Título: “Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca”
Direção: Scott Chambers
Elenco: Megan Placito, Martin Portlock, Kit Green, Peter DeSouza-Feighoney, Charity Kase, Teresa Banham, Campbell Wallace
Disponível em: Prime Video (aluguel e compra)
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