“Popeye’s Revenge” não é exatamente um filme. É mais um sintoma. Um produto sintético de uma tendência que se recusa a morrer: a de transformar ícones infantis em fantoches ensanguentados, movidos a ironia vazia e orçamento mínimo. Não se trata de subverter personagens clássicos. Trata-se de explorá-los até que virem uma sombra sem propósito, alimentando um ciclo de exploração mercadológica que se disfarça de transgressão.
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A aposta agora é Popeye, o marinheiro com braços hipertrofiados que antes resolvia tudo com uma lata de espinafre. Aqui, ele ganha vida como um slasher grotesco, sem carisma, sem propósito e, principalmente, sem qualquer razão para existir que não seja o fato do personagem ter caído em domínio público. E isso já diz tudo. É uma obra que não parte de uma ideia, mas de uma brecha legal.
Tecnicamente, o filme não tenta esconder suas limitações. Pelo contrário, parece se orgulhar do seu visual rudimentar, da direção desinteressada e da montagem que confunde barulho com tensão. A fotografia até flerta com algum tipo de atmosfera, mas a tentativa de criar algo sombrio desmorona sob o peso da artificialidade. O que deveria ser um jogo entre horror e absurdo se revela, na verdade, um exercício de repetição sem timing, sem ritmo, sem qualquer senso de construção narrativa.
O elenco não é um problema, porque simplesmente não existe espaço dramático para que alguém seja mais do que uma caricatura descartável. Nenhum personagem tem tempo ou densidade para gerar conexão. Estão ali para gritar, correr e morrer. E o roteiro, ciente disso, nem tenta fingir o contrário. A superficialidade é programada, e o desinteresse é institucionalizado.
É difícil até analisar “Popeye’s Revenge” como cinema. Ele não propõe nada, não reage a nada, não tensiona nenhum gênero, apenas repete fórmulas desgastadas de maneira automática, apostando que a mera presença de um personagem conhecido fora de contexto já justifique o investimento do público. O problema é que o choque passa rápido. E o que sobra é só tédio.
O que mais incomoda aqui não é o fracasso artístico, mas a ausência de qualquer ambição. O filme não erra tentando ousar. Ele erra por existir em modo piloto automático, entregue a uma lógica de produção que não visa resultado estético, apenas presença em catálogo. Tudo o que ele tem a oferecer é o título. E nem isso sustenta alguma curiosidade real.
No fim, “Popeye’s Revenge” não é assustador, nem engraçado, nem inteligente. É apenas mais um nome jogado no liquidificador dos horrores genéricos, como tantos outros que virão nos próximos anos, enquanto a fila de personagens em domínio público só cresce. A pergunta já não é mais “por que fazer isso?”, mas “até quando vão fazer isso?”.
Se ainda havia alguma ilusão de que essas releituras poderiam gerar algo instigante, aqui está a resposta: só o cansaço. E ele chega rápido.
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