Existe algo magnético quando uma franquia decide respirar diferente e trocar o caminho mais óbvio por um arco que expande seu próprio universo com coragem. “Predador: Terras Selvagens” surge como esse respiro vibrante, uma história que joga luz em pontos ignorados por décadas e que transforma a mitologia Yautja em algo mais profundo, mais complexo, mais imprevisível. A produção abandona a fórmula do supercaçador invencível e abraça a jornada de um jovem predador renegado, criando uma atmosfera que mistura brutalidade alienígena, estranhamento sensorial e uma dose cuidadosa de sensibilidade.

A narrativa acompanha esse Yautja excluído de seu clã, um guerreiro em formação que carrega em si a urgência de provar valor. O roteiro conduz o espectador a um planeta remoto onde a paisagem respira perigo e onde cada criatura parece ter sido esculpida para matar. É um território que funciona quase como personagem, pulsando com um ecossistema próprio, cheio de armadilhas, cores tóxicas e criaturas que desafiam qualquer lógica. Nesse cenário, o encontro do jovem predador com Thia (Elle Fanning), uma ciborgue abandonada à própria sorte, cria uma combinação improvável que sustenta a espinha dorsal do filme.
A dinâmica entre eles traz algo raro na franquia: uma parceria que se constrói a partir da tensão entre culturas, códigos e necessidades distintas. Thia funciona como uma biblioteca ambulante, guiando o Yautja por caminhos estratégicos que ele desconheceria. Ele, por sua vez, opera com instintos brutos, carregando o orgulho ferido de quem precisa reconstruir sua própria existência. Essa união vira o centro emocional do filme, e é surpreendente como a química funciona de maneira orgânica.
Dan Trachtenberg, mais uma vez, revela domínio sobre o DNA do universo Predador. Sua direção segue firme na criação de combate, coreografias violentas e uma estética que brinca com limites. O truque inteligente surge quando o filme investe em criaturas alienígenas, androides e corpos sintetizados para garantir liberdade visual. O sangue nunca é vermelho, e isso abre espaço para cenas de ação que parecem romper barreiras de classificação etária. O resultado é um espetáculo que extrai impacto sem escorregar para a previsibilidade.
O planeta apelidado pelos fãs de Death Planet entrega algumas das sequências mais inventivas de toda a franquia. Cada criatura introduzida parece carregada de personalidade própria, e cada ameaça funciona como teste físico e emocional. Trachtenberg transforma o ambiente em arena, oferecendo ao público uma diversidade de biomas que lembram mundos de videogame onde tudo quer derrubar o jogador.
A trilha sonora composta por Sarah Schachner e Benjamin Wallfisch merece destaque absoluto. O uso de texturas vocais, pulsações metálicas e cantos quase litúrgicos cria uma sensação de ritual futurista. É uma sonoridade que marca o filme e ajuda a diferenciar “Predador: Terras Selvagens” dentro de uma franquia que, historicamente, sempre foi muito associada à atmosfera tensa e direta dos anos 80 e 90.
Elle Fanning assume o espaço de protagonista com intensidade brilhante. Sua Thia equilibra fragilidade programada e força conquistada, entregando camadas que enriquecem a trama. O jovem Yautja funciona como contraponto perfeito, abrindo espaço para esse arco de renascimento ritualístico que atravessa todo o projeto visual e narrativo.
“Predador: Terras Selvagens” funciona como uma celebração de ideias novas dentro de um universo clássico. É um filme que entende o valor de reinvenção e usa isso para revitalizar uma mitologia prestes a ficar estagnada. O resultado é uma obra que diverte, surpreende e aponta caminhos interessantes para o futuro da franquia.
“Predador: Terras Selvagens”
Direção: Dan Trachtenberg
Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi, Stefan Grube
Disponível em: Cinemas
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