Bryan Bertino, o mesmo diretor de “Os Estranhos”, retorna ao terror com “Presente Maldito” e entrega um filme que começa como uma promessa sombria, mas termina como um exercício de frustração. O longa parece entender o peso do silêncio, da tensão e do mistério até o momento em que decide explicar tudo e perder o controle.

Polly (Dakota Fanning) é o centro dessa fábula macabra. Sozinha em casa, ela recebe uma caixa misteriosa acompanhada de instruções precisas: colocar dentro algo de que precisa, algo que odeia e algo que ama. A partir daí, o horror nasce não da caixa, mas da inevitável curiosidade humana. O objeto, de aparência simples, torna-se um catalisador de culpa e medo. Há algo profundamente simbólico nesse gesto de entrega, como se o filme flertasse com a ideia de que o verdadeiro terror está em abrir mão de quem somos para atender a uma força que não compreendemos.
Dakota Fanning é o motor do filme. Ela traduz o pânico em gestos mínimos, o desespero em olhares quase mudos. Sua Polly é uma mulher em colapso emocional, cercada por uma atmosfera de isolamento que mais parece uma prisão psicológica. Bertino cria um clima de desconforto constante, uma sensação de algo prestes a acontecer o problema é que esse “algo” demora demais. A tensão, tão bem construída no início, dissolve-se em repetições e sustos previsíveis.
A fotografia é escura, sufocante, e o design de som trabalha bem as pausas e o silêncio. Há ecos de “Sinister” e “O Chamado” no modo como o terror é construído em torno de um objeto amaldiçoado, mas “Presente Maldito” não alcança o mesmo impacto porque se perde na própria ambição de ser mais complexo do que realmente é. As regras da caixa são confusas, mudam o tempo todo e enfraquecem a lógica interna da história. Quando o filme deveria se aprofundar na psicologia da protagonista, opta por prolongar a ação sem propósito, estendendo o suspense até o esgotamento.
Há, porém, momentos de puro acerto. A interação de Polly com a misteriosa senhora interpretada por Kathryn Hunter adiciona uma camada de estranhamento que flerta com o grotesco. O problema é que a personagem, como tantas outras, é subaproveitada. Hunter, uma atriz de imenso talento, parece confinada a um estereótipo repetido do “mentor sombrio”, sem o espaço para construir algo mais.
“Presente Maldito” é um filme de atmosfera impecável e ideias intrigantes, mas refém da indecisão entre o terror psicológico e o sobrenatural convencional. Fanning sustenta o que pode, mas o roteiro carece de foco e ritmo. Quando o medo deveria crescer, o tédio se instala. A caixa, que começa como metáfora, acaba virando um enigma sem alma.
No fim, resta a sensação de que havia um ótimo curta-metragem escondido dentro de um longa cansado. E que o verdadeiro presente maldito talvez seja o tempo que ele rouba da gente.
“Presente Maldito”
Direção e roteiro: Bryan Bertino
Elenco: Dakota Fanning, Kathryn Hunter, Devyn Nekoda, Drew Moore, Emily Mitchell, Karen Cliche, Klea Scott
Disponível em: Prime Video
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