O longa “Quase Famosos” é um daqueles filmes que nos transporta para uma era onde o rock n’ roll era mais que música, era uma filosofia de vida. Aqui, seguimos William Miller, um adolescente fã de rock que consegue o emprego dos sonhos: cobrir a primeira turnê da fictícia banda Stillwater para a Rolling Stone. Sim, a revista lendária. Mas, à medida que ele mergulha fundo no estilo de vida da banda, a linha entre o jornalista e o fã começa a se borrar, e ele logo se vê mais envolvido do que jamais imaginou.
Quando esse filme foi lançado, lá nos anos 2000, ele trouxe consigo uma onda de nostalgia que, mesmo hoje, te pega de jeito. No meio de uma Hollywood já saturada por efeitos especiais e grandes explosões, “Quase Famosos” soou como um riff de guitarra clássico: puro, emocional, genuíno. Não é à toa que foi comparado a outras grandes obras que homenageiam o passado americano, como “American Graffiti” e “Dazed and Confused”. Mas, com a direção de Cameron Crowe, tudo ganha um ar ainda mais íntimo, quase autobiográfico – afinal, Crowe viveu uma parte dessa história na pele, quando era um jovem jornalista.
E é exatamente essa autenticidade que faz o filme brilhar. Não espere aqui as loucuras caricatas de um “Spinal Tap”, mas uma representação honesta (com toques de fantasia, claro) do universo rock dos anos 70. É o típico “conto de amadurecimento”, mas com uma trilha sonora que transforma cada cena em uma experiência quase espiritual. Crowe sabe como nos fazer sentir saudade de uma época que muitos de nós sequer vivemos. E quer saber? Você sai do filme pensando: “Eu deveria ter nascido lá”.
Claro, há um ‘quê’ de romantização aqui. As Band Aids, por exemplo, aquelas musas do rock que não eram apenas groupies, mas quase figuras místicas que inspiravam os músicos. O filme equilibra bem essa fantasia com a crueza do estilo de vida da estrada. Há overdoses, desilusões e, claro, aquele amor platônico que nunca se concretiza. Tudo isso embalado por uma das trilhas sonoras mais incríveis que o cinema já viu. De Elton John a The Who, cada música é uma cápsula do tempo, transportando-nos diretamente para a era do rock de verdade.
O elenco? Ah, o elenco. Patrick Fugit traz uma ingenuidade interessante ao papel de William. Kate Hudson é um furacão de carisma como Penny Lane – tanto que sua atuação lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Frances McDormand é impecável, como sempre, trazendo aquela tensão maternal que todos nós já sentimos. E não dá para esquecer Philip Seymour Hoffman como Lester Bangs – ele é o mentor perfeito para William, com suas doses de sabedoria irônica sobre o jornalismo musical.
E falando em sabedoria, o filme nos dá alguns tapas na cara quando se trata do poder da música. A cena do avião, onde os membros da banda acham que vão morrer, é uma metáfora perfeita do quanto a vida no rock é imprevisível, apaixonante e, às vezes, caótica. E sim, a gente também queria que o Led Zeppelin tivesse liberado “Stairway to Heaven” para o filme. Porque, convenhamos, teria sido a cereja no bolo dessa jornada transformadora.
No fim das contas, “Quase Famosos” é isso: uma carta de amor ao rock, à juventude e às descobertas que fazemos quando menos esperamos. É um filme para quem ama música, para quem já se apaixonou por uma banda e para quem, de alguma forma, ainda acredita que o rock n’ roll tem o poder de mudar tudo.