“Quebrando Regras” é um daqueles filmes que desafiam a fórmula justamente por seguir a fórmula. O que parece, à primeira vista, mais uma cinebiografia edificante sobre uma professora que acredita no poder transformador da educação, rapidamente revela-se um projeto com ambições maiores. O filme sabe onde quer chegar: emocionar, inspirar e levantar questões importantes sem precisar erguer a voz. E em boa parte do tempo, consegue.
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A obra parte da trajetória real de Roya Mahboob e sua iniciativa para inserir meninas afegãs no universo da robótica. A força do filme está exatamente aí: na decisão de centralizar o olhar nessas meninas e em suas trajetórias individuais, sem transformar isso num desfile de tragédias ou num panfleto político genérico. O que move a narrativa é o sonho coletivo por conhecimento, mesmo em um ambiente que insiste em transformar esse sonho em ameaça.
O roteiro é eficiente no que se propõe, ainda que escorregue na edição. Há saltos temporais bruscos e lacunas que comprometem o ritmo, como se houvesse um receio de mergulhar mais fundo nas tensões geopolíticas e culturais do contexto. Essa suavização deliberada pode incomodar quem espera um retrato mais crítico ou mais engajado, mas a escolha aqui é outra: valorizar o afeto como motor narrativo.
A produção toma uma decisão arriscada ao apresentar tudo em inglês, mesmo ambientada quase integralmente no Afeganistão. É um detalhe que incomoda, porque interfere na autenticidade da proposta. Ao optar por uma língua que não é nativa dos personagens, o filme enfraquece parte do vínculo emocional que poderia ser mais intenso se respeitasse o idioma como elemento de identidade. Ainda assim, essa escolha parece mais uma limitação de distribuição do que uma falha de sensibilidade criativa.
Visualmente, o filme é funcional. Há poucos momentos de brilho estético, e a direção aposta numa fotografia quase neutra, que evita dramatizações e mantém o foco nas personagens. Essa sobriedade visual ajuda a não transformar a luta dessas jovens em espetáculo, o que é um mérito em um projeto que facilmente poderia ter escorregado na estética do sofrimento.
O grande acerto de “Quebrando Regras” está na construção do vínculo entre as meninas e no modo como o filme respeita suas jornadas individuais dentro de um coletivo. A emoção não vem da superação espetacular, mas da persistência silenciosa. Não há heroínas perfeitas nem vilões explícitos. O que existe é um sistema que sabota, uma sociedade que impõe limites e um grupo de garotas que, mesmo sem ter todas as ferramentas, insiste em construir caminhos.
Claro que o filme não está isento de falhas. A ausência de um posicionamento mais incisivo sobre o contexto político recente pode soar como omissão. Mas talvez essa escolha venha de outro lugar: de priorizar o impacto íntimo da educação sobre a denúncia macro. E, dentro desse recorte, o filme acerta em cheio. Ele não quer ser manifesto, quer ser impulso. E é exatamente isso que oferece.
“Quebrando Regras” é um filme que entende a força de uma história bem contada, mesmo que imperfeita. Ele funciona mais pela integridade do que pela ousadia, mais pela sensibilidade do que pela técnica. E mesmo quando hesita, permanece fiel à sua missão: mostrar que ensinar meninas não é apenas revolucionário, é necessário.
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