Crítica: “Queer”

Em “Queer”, Luca Guadagnino, com roteiro de Justin Kuritzkes, entrega uma adaptação do romance inacabado de William S. Burroughs, que ambiciona capturar a angústia e o desespero de um expatriado na Cidade do México dos anos 1940. O filme acompanha William Lee (Daniel Craig), que, fugindo de Nova Orleans, cai nas sombras dos clubes e das drogas da capital mexicana, onde encontra um objeto de desejo conturbado em Allerton (Drew Starkey). Guadagnino, com sua habitual propensão ao experimentalismo, oferece uma produção visualmente intrigante em alguns pontos, mas que logo se perde em sua própria ambição estética e narrativa.

Crítica: “Queer” | Foto: Reprodução

A princípio, o longa até parece promissor, como na sequência inicial com Craig em uma interpretação intensa de Lee. Contudo, o brilho se dissipa à medida que o enredo se desdobra, com interações entre Lee e Allerton que jamais se elevam além de uma superfície sem densidade. O que poderia ser uma narrativa de pulsões internas e confrontos existenciais, rapidamente se torna monótono. Craig e Starkey carecem de uma química genuína, e o relacionamento central se apresenta menos como uma jornada emocional e mais como uma série de interações desprovidas de impacto.

O aspecto visual, sempre um trunfo de Guadagnino, alterna entre o sublime e o estranho, com cenários que oscilam entre o autêntico e o artificial. As cenas externas, em particular, apresentam uma estética que soa forçada, com fundos que, em vez de evocarem a atmosfera mexicana dos anos 40, parecem artificialmente compostos e de iluminação inconsistente. O efeito acaba mais distrativo do que imersivo, quebrando a ilusão de época e distanciando ainda mais o espectador dos personagens e suas crises internas.

Se alguns momentos isolados, como a agulha de heroína nas mãos de Craig, conseguem traduzir a dor e o vazio do personagem, eles são raros. Guadagnino parece recair em um estilo que dialoga mais consigo mesmo do que com o público, especialmente no terceiro ato, onde o experimentalismo desafia qualquer conexão emocional ou narrativa clara. A inclusão de músicas licenciadas, que em outros filmes do diretor adicionariam profundidade, aqui surge mais como um adereço estético vazio, um recurso usado sem critério dramático.

Embora o filme esboce uma homenagem às narrativas clássicas de Powell e Pressburger, Guadagnino falha ao elaborar a alma nessa homenagem, que não sustenta o peso de um projeto excessivamente indulgente. As sequências íntimas, ao invés de reveladoras, parecem inseridas para causar impacto visual, muitas vezes sem justificar sua relevância à trama.

Queer” termina como um experimento vazio, carregado de intenções mas sem execução coesa.

Avaliação: 1 de 5.
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