“Resgate Suicida” surge com ares de coisa pequena, quase escondido entre tantas produções mais ambiciosas no gênero faroeste, mas entrega uma obra que, mesmo sem reinventar nada, tem personalidade suficiente para merecer atenção. O que parece à primeira vista ser apenas mais uma missão violenta entre desajustados em busca de redenção, se revela um filme que aposta em microexpressões, silêncios e um senso de caos muito mais psicológico do que propriamente físico. E isso, sim, faz diferença.
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O filme se ancora na figura de Peter Dinklage, que assume o protagonismo com uma força silenciosa, seca, mas sempre ameaçadora. É uma atuação contida, que não precisa de gritos para intimidar. A forma como ele se impõe mesmo nos momentos mais calmos é parte do que sustenta o tom do longa. A presença dele carrega não apenas o personagem, mas todo o filme, que gira ao redor de sua energia contida e, ao mesmo tempo, prestes a explodir.
Mas o que realmente movimenta “Resgate Suicida” é o confronto com a figura da vilã Cutthroat Bill, interpretada com absoluta loucura e intensidade por Juliette Lewis. Ela rouba tudo quando está em cena, com um olhar demente e imprevisível que arrepia. O faroeste sempre teve seus vilões sádicos, mas aqui o que assusta é o descontrole. E o filme usa isso muito bem, colocando os personagens numa caçada onde qualquer chance de salvação parece sempre estar por um fio.
Há, sim, elementos batidos. O grupo de desajustados, a missão desesperada, os confrontos explosivos. Mas “Resgate Suicida” se diferencia pela forma como assume seu universo: tudo é podre, poeirento e brutal, mas nunca só por ser. A violência tem função narrativa, não é estética pura. E mesmo quando o roteiro escorrega na simplicidade, o elenco segura tudo com dignidade. Esmé Creed-Miles se destaca com seu olhar feroz e vulnerável, enquanto Levon Hawke começa a mostrar que não está só carregando o sobrenome famoso.
Há também um certo charme em ver James Hetfield, do Metallica, surgir como um irmão violento num papel pequeno, mas marcante. A dupla formada por ele e Macon Blair poderia facilmente ter tido mais tempo de tela. Gbenga Akinnagbe funciona bem ao lado de Dinklage, os dois criando uma química seca, de homens calejados e silenciosos, sobreviventes de um mundo onde pouca coisa ainda presta.
O maior pecado do filme é prometer mais do que entrega. O tal “thicket”, o emaranhado do título, quase não se concretiza enquanto metáfora ou ambientação. A floresta que deveria ser parte essencial da narrativa vira apenas um cenário simbólico mal aproveitado. Faltou ousadia aqui. O roteiro também poderia mergulhar mais nas camadas desses personagens. Algumas histórias pedem profundidade e são deixadas de lado em favor da próxima cena de tiroteio.
Mas no fim das contas, o que “Resgate Suicida” oferece é um faroeste direto, sujo e com alma. Uma daquelas histórias que funcionam mais pela entrega de quem está na tela do que pelo que está escrito no papel.
“Resgate Suicida”
Direção: Elliott Lester
Elenco: Peter Dinklage, Juliette Lewis, Levon Thurman-Hawke, Esmé Creed-Miles, James Hetfield, Gbenga Akinnagbe, Ned Dennehy
Disponível em: Max
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