“Lovin’ You” é o tipo de álbum que Richard Ashcroft faz quando decide lembrar o mundo de que a música, no fim das contas, ainda pode soar humana. Sete anos depois de seu último trabalho, ele retorna com a serenidade de quem já enfrentou o auge e o silêncio, e agora escolhe cantar o amor com a calma de quem o entende de verdade. Há uma elegância crua em cada faixa, um senso de tempo e maturidade que poucos artistas de sua geração conseguiram sustentar.

O disco se desenha como uma confissão em voz alta, feita entre o sagrado e o terreno. Ashcroft sempre foi movido por temas imensos (fé, redenção, amor, identidade), e aqui ele abraça todos eles sem peso ou pretensão. “Lovin’ You” é mais um exercício de alma do que um simples lançamento. Há uma leveza nas batidas, nas cordas, no modo como o baixo se mistura ao vocal rouco e ainda assim preciso. O artista retorna ao básico, mas o básico dele é feito de melodias que carregam décadas de experiência e cicatrizes.
A construção sonora é densa, porém fluida. Entre o soul e o pop britânico, há nuances de folk e lampejos de disco que trazem frescor sem parecer esforço. Richard explora novas texturas, mas tudo soa familiar, como se revisitasse a própria história com um novo olhar. O álbum é feito de recomeços, não de reinvenções. Quando ele canta sobre amor, há algo de espiritual, mas também de cotidiano uma entrega sincera, sem o desejo de soar jovem ou moderno.
A voz de Ashcroft, por si só, é uma viagem. Grave, gasta e iluminada, ela carrega o peso de cada verso com naturalidade. Ele não tenta provar mais nada, apenas existir dentro da música. É ali que sua força está. Há momentos em que o vocal se dobra em falsetes delicados, outros em que se torna quase um sussurro rouco. Tudo controlado, intencional, orgânico. A produção serve a essa presença, sem sobrecarregar.
Musicalmente, “Lovin’ You” transita entre a contemplação e o impulso. Há faixas que lembram a vibração espiritual de “Alone with Everybody” e outras que retomam a urgência mais crua de “Natural Rebel”. Mas o que une tudo é o olhar introspectivo. É um álbum de amor, sim, mas de amor visto sob o prisma do tempo: o amor que resistiu, que amadureceu, que virou abrigo em vez de tormenta.
O ponto alto está na honestidade. Richard não tenta agradar, nem competir com ninguém. Ele só quer construir canções que durem. E consegue. “Lovin’ You” soa como um gesto de reconciliação com o público, com a vida, com o próprio ofício. Cada faixa parece feita para ser ouvida de olhos fechados, com a mente entregue ao som.
No fim, o disco é exatamente o que o título promete: um mergulho no amor, não como ideal, mas como realidade. Ashcroft entende que o amor também é cíclico, cheio de rachaduras, e é por isso que ele continua sendo a matéria-prima mais poderosa da música. “Lovin’ You” é a prova de que o tempo pode envelhecer a voz, mas jamais a essência. Richard Ashcroft permanece como um dos últimos grandes alquimistas do sentimento e este álbum é seu novo feitiço, suave e certeiro.
Nota: 80/100 | Richard Ashcroft, “Lovin’ You”
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