Com sua estreia em longas-metragens, o diretor Felipe Vargas apresenta “Rosário”, um terror sobrenatural que, embora ambientado em uma única noite sob forte tempestade de neve, carrega o peso de várias décadas de convenções do gênero. A história gira em torno da jovem Rosario (Emeraude Toubia), que precisa velar o corpo da avó até a chegada de uma ambulância. O confinamento físico logo se transforma em isolamento psicológico, à medida que forças sobrenaturais emergem do próprio corpo da matriarca morta. Ainda que parta de um argumento conhecido, o filme tenta se distinguir ao incorporar elementos da cultura latino-americana em sua construção dramática e simbólica.
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Na superfície, “Rosário” evoca ecos de “Arraste-me para o Inferno” (Sam Raimi) misturados ao realismo social de “Uma Vida Melhor” (Chris Weitz). No entanto, o longa não consegue alcançar a energia de um nem o impacto emocional do outro. Há um esforço visível em trazer à tona uma atmosfera de horror corporal gosmas, vermes e efeitos práticos grotescos compõem algumas das sequências mais memoráveis, mas esse potencial acaba diluído por um roteiro que hesita entre o horror psicológico e os sustos fáceis.
O roteiro de Alan Trezza, que já transitou por comédias macabras como “Enterrando o Ex” e “Invocamos a Escuridão”, oferece uma estrutura previsível e pouco inventiva até a chegada de uma reviravolta tardia. Essa virada, embora aumente o interesse, não compensa a inconsistência do arco dramático nem a superficialidade com que os temas culturais e espirituais são explorados. A abordagem da bruxaria ou da influência sobrenatural ligada a tradições latinas merecia maior profundidade e reverência simbólica, e não apenas servir de pano de fundo exótico.
Emeraude Toubia conduz o filme com carisma, mas o material que recebe limita suas possibilidades interpretativas. O roteiro pouco explora a complexidade emocional de sua personagem diante do luto, da culpa e do medo. O mesmo vale para David Dastmalchian, ator conhecido por dar vida a figuras excêntricas e instigantes. Aqui, ele aparece como o vizinho Joe, cuja principal motivação cômica gira em torno de uma fritadeira de ar um recurso de humor deslocado que enfraquece o tom e a ameaça do terror em construção.
Do ponto de vista técnico, o destaque vai para os efeitos práticos supervisionados por Felipe De La Roche e Kc Mussman. As transformações físicas e os momentos de gore, embora esporádicos, demonstram competência e criatividade. A paleta de cores sombria e a fotografia claustrofóbica também colaboram para uma ambientação opressora, ainda que a direção careça de ritmo e precisão para sustentar a tensão ao longo de toda a projeção.
“Rosário” é, em essência, um filme de potencial não realizado. Embora traga à tona uma necessária representatividade cultural e uma protagonista latina em um papel central no terror, o longa falha em transformar essa premissa em algo narrativamente robusto. Vargas mostra algum controle estético e um olhar promissor para os aspectos visuais do gênero, mas precisa de material mais sólido e ousado para fazer jus a suas intenções. Entre os clichês, sustos previsíveis e subtramas pouco exploradas, sobra um filme funcional, mas esquecível que poderia ter ido além se tivesse abraçado mais intensamente sua própria escuridão.
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