“Screamboat: Terror A Bordo” é o mais recente fruto da nova safra de filmes de terror baseados em personagens que entraram no domínio público. Após as versões macabras de figuras como Ursinho Pooh e Bambi, chegou a vez do rato mais icônico da cultura pop ser reinterpretado sob o prisma do slasher – uma reimaginação anárquica de “Steamboat Willie” que aposta no choque, na sátira e na caricatura do horror.
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A premissa é simples, mas funcional: uma balsa noturna atravessa o rio Hudson, em Nova York, durante sua última viagem do dia. A bordo, passageiros e tripulantes se veem encurralados em pleno alto-mar por uma criatura antropomórfica grotesca, cuja aparência remete diretamente ao Mickey do curta de 1928. A partir daí, o que se segue é uma espiral de mortes brutais, mutilações coreografadas e uma atmosfera propositalmente absurda, que abdica de qualquer traço de verossimilhança para se entregar ao excesso estilizado.
Do ponto de vista técnico, o filme opera dentro de uma lógica de produção low-budget intencionalmente escancarada. A fotografia aposta em tons artificiais e iluminação saturada, remetendo à estética dos slashers de baixo orçamento dos anos 1980. O design de som é genérico, a trilha sonora parece saída de um banco sonoro royalty-free e as atuações variam entre o risível e o funcional. Mas é nesse descompromisso com a qualidade tradicional que o filme encontra seu próprio eixo narrativo: ele não quer parecer bom, quer parecer cínico, transgressor e consciente de seu lugar como produto derivativo.
A construção do “vilão” é, sem dúvida, o elemento mais chamativo da obra. Inspirado diretamente na figura de Mickey em “Steamboat Willie”, o monstro carrega um aspecto de pastiche que mistura nostalgia e repulsa. A fixação do personagem por canos, engrenagens, apitos e ambientes industriais não apenas remete à estética do curta original, como serve de desculpa para a criação de mortes visualmente criativas, muitas delas evocando dispositivos em estilo Rube Goldberg. A criatura nunca é nomeada, e seu comportamento não é justificado, o que reforça a natureza autoconsciente do filme: a motivação não importa, o que importa é o espetáculo grotesco.
Narrativamente, o filme é básico ao extremo. A estrutura segue fielmente o modelo do slasher clássico: introdução de personagens descartáveis, sequência de assassinatos progressivamente mais elaborados, um ou dois momentos de humor involuntário, a tradicional cena de sexo e o confronto final com o sobrevivente ou sobreviventes. Tudo é previsível, mas essa previsibilidade é tratada como parte do pacote – o filme funciona quase como uma paródia interna do próprio gênero.
O grande problema de “Screamboat” está em seu ritmo. Com pouco mais de 100 minutos, a narrativa se arrasta em seu segundo ato, que deveria sustentar a tensão crescente. O excesso de repetição nas mortes e a ausência de variação tonal comprometem o dinamismo da experiência. Este é um filme que deveria durar, no máximo, 85 a 90 minutos. Com mais tempo em tela do que conteúdo a explorar, parte de seu charme se dilui em redundância.
Mesmo assim, o filme se sustenta como um produto de nicho consciente de sua vocação grotesca. Não há tentativa de se vender como cinema de qualidade, nem como terror psicológico. O que ele entrega é exatamente o que promete: um monstro ridículo matando pessoas em um barco, com sangue falso, atores ruins e um senso de humor mórbido. É, essencialmente, cinema grindhouse com verniz digital, ideal para sessões noturnas com amigos ou festivais de trash horror.
“Screamboat: Terror A Bordo” não é relevante como obra de terror no sentido tradicional, mas cumpre com eficiência o que se propõe a ser: uma paródia brutal, desrespeitosa e absurdamente autoconsciente do universo dos slashers e das IPs da cultura pop. Não pretende assustar nem provocar reflexão – quer apenas celebrar a entrada de ícones infantis no domínio público da forma mais transgressora possível. Para alguns, será lixo descartável. Para outros, uma joia trash que sintetiza com exatidão o espírito de uma era onde o terror e o nonsense compartilham o mesmo barco.
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