O quarto álbum de estúdio de Selena Gomez, agora em colaboração direta com Benny Blanco, é um projeto que, à primeira vista, sugere intimidade, confissão e coesão: um relato da trajetória amorosa do casal, segundo o material promocional. Lançado em 21 de março de 2025, “I Said I Love You First” surge envolto em expectativas não apenas pelo ineditismo da parceria formalizada entre ambos, mas pelo contexto midiático em que está inserido envolvendo o noivado, a fase final da carreira musical de Selena e um marketing agressivo ancorado no romance dos dois.
No entanto, o que deveria ser uma obra coesa e autoral se revela uma colcha de retalhos estilística, onde a identidade própria da artista parece diluída em influências alheias e experimentações desconexas.
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Logo nos primeiros minutos, é possível perceber que o álbum não sabe exatamente onde quer chegar. Musicalmente, Benny Blanco conduz a produção por trilhas já pavimentadas por outros artistas contemporâneos, com resultados desiguais. “Younger e Hotter Than Me”, abertura produzida com Finneas, traz um instrumental minimalista e sombrio, alinhado ao pop melancólico radiofônico da última década. Apesar de tecnicamente competente, a faixa parece uma simulação do estilo Billie Eilish sem conseguir imprimir personalidade própria.
Essa sensação se repete em “Call Me When You Break Up”, dueto com Gracie Abrams que evoca imediatamente o universo sonoro de Taylor Swift tanto na estrutura melódica quanto na composição lírica centrada em amizade e desilusão. Aqui, Gomez parece ceder espaço completamente à convidada, desaparecendo no arranjo.
O problema da sobreposição de referências externas se intensifica em “Ojos Tristes”, parceria com The Marías, onde um sample de “El Muchacho de los Ojos Tristes” é utilizado como âncora para um dueto pop latino. Embora a execução seja agradável, a faixa soa derivativa, sem expandir esteticamente o conceito proposto.
“Sunset Blvd”, uma das faixas mais elogiadas nas redes, funde synthpop e bedroom pop com um claro aceno ao que Olivia Rodrigo tem feito recentemente, sem disfarçar a aproximação. A estrutura vocal, a progressão harmônica e até a produção levemente lo-fi remetem diretamente ao álbum Guts, mas sem a energia ou originalidade da referência.
O principal problema de “I Said I Love You First” não é sua variedade estilística, mas a ausência de um fio condutor claro. A ideia central, de contar a história amorosa de Gomez e Blanco, perde-se em composições que pouco dialogam entre si. Baladas como “Don’t Wanna Cry” ou “How Does it Feel to Be Forgotten?” sugerem momentos de vulnerabilidade emocional, mas são sucedidas por faixas sexualizadas (“Cowboy”), pop genéricas e até tentativas de country pop (“Scared of Loving You”) que não constroem um arco consistente.
Mesmo interlúdios como “Do You Wanna Be Perfect?” parecem colocados mais como respiro para a tracklist do que como elemento estrutural. O resultado é um disco que apresenta vários momentos isoladamente competentes, mas falha em criar uma experiência coesa.
Talvez o aspecto mais decepcionante seja perceber como Selena Gomez, enquanto intérprete, soa apagada. Não há uma linha evolutiva que conecte seus trabalhos anteriores com este projeto. O álbum, vendido como um registro pessoal, acaba sendo um exercício de mimetismo pop, onde a personalidade de Selena é engolida por produtores, convidados e estilos alheios.
O título da faixa “You Said You Were Sorry” acaba funcionando como metacrítica involuntária, pois sintetiza a frustração diante de um disco que promete vulnerabilidade, mas entrega um produto calculado, genérico e comercial.
“I Said I Love You First” representa, tecnicamente, um trabalho competente em termos de produção, mas artisticamente vazio. O excesso de colaboradores, estilos e influências acaba enfraquecendo qualquer proposta intimista, diluindo Selena Gomez em um projeto que prioriza estética sobre essência. Fica a sensação de um álbum feito mais para gerar impacto midiático (conseguido, diga-se) do que para consolidar um legado musical.
Como experiência auditiva, é disperso. Como projeto conceitual, falho. Como registro pessoal, superficial.
Nota final: 55/100
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