Self Esteem entrega em “A Complicated Woman” um trabalho de equilíbrio raro: pop grandioso, lirismo confessional e um senso teatral que evita o excesso, mesmo quando flerta com ele. Trata-se de um disco que avança a estética de “Prioritise Pleasure” sem repeti-la, e que amplia a persona artística de Rebecca Lucy Taylor, agora completamente à vontade para ocupar o centro do palco como arquiteta de uma obra que junta musicalidade, performance e discurso em um só gesto.
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Musicalmente, “A Complicated Woman” aposta em arranjos expansivos, conduzidos por orquestrações luxuosas e intervenções corais, como é o caso de “Focus Is Power”, cuja estrutura lembra uma trilha de musical. A inserção de elementos do gospel moderno e da música teatral não apenas funciona, como estrutura o disco como uma experiência coesa e intencional. É pop pensado como espetáculo, mas sem se desconectar de uma matriz emocional e, em última instância, humana.
Liricamente, o álbum mantém a tradição já consolidada por Taylor de capturar vinhetas da vida cotidiana com precisão e franqueza. Faixas como “If Not Now, It’s Soon” e “What Now” retomam o tom confessional de “I Do This All The Time”, mas com uma construção lírica mais madura. A protagonista de “A Complicated Woman” está menos interessada em autoafirmações explícitas e mais empenhada em compartilhar dúvidas, frustrações e desejos sem filtrar a ambiguidade. Em “Cheers To Me”, por exemplo, Taylor encapsula o cansaço emocional da mulher contemporânea em uma única pergunta: “em quantos trens eu vou chorar?”.
Há também espaço para o humor afiado e o deboche consciente de si mesma. Em “69”, Taylor embarca numa revisão divertida e crítica da sexualidade feminina sob o ponto de vista da performance e da autonomia. A faixa funciona como válvula de escape cômica, mas, ao mesmo tempo, revela o compromisso da artista com um olhar feminista e provocativo que permeia todo o álbum.
Colaborações como “Lies”, com Nadine Shah, e “Mother” ampliam o escopo temático, sem comprometer a unidade do trabalho. A primeira revisita o universo emocional de “Prioritise Pleasure”, enquanto a segunda traz uma crítica amarga à sobrecarga emocional imposta às mulheres em relacionamentos heterossexuais, fazendo uso de uma produção eletrônica incisiva e cortante.
O disco, no entanto, não escapa de alguns excessos. A predominância de arranjos orquestrais em quase todas as faixas pode gerar uma sensação de repetição emocional. Em momentos como “The Deep Blue Okay”, o álbum quase se rende ao drama em excesso, correndo o risco de perder parte de sua tensão narrativa. Ainda assim, Taylor consegue reverter esse risco ao manter sua escrita sempre centrada em experiências pessoais reconhecíveis, o que sustenta a conexão com o ouvinte.
“A Complicated Woman” é um disco que se sustenta como obra pop ambiciosa e sofisticada. Não busca hits fáceis, tampouco se limita a fórmulas de empoderamento pré-digeridas. Em vez disso, Rebecca Lucy Taylor aprofunda sua proposta artística ao se afirmar como cronista de uma geração feminina que está exausta, mas que ainda encontra fôlego para rir, amar, dançar e desafiar expectativas. O álbum é, acima de tudo, a prova de que Self Esteem é hoje uma das vozes mais coesas, teatrais e necessárias do pop.
Nota: 74/100
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