Crítica: Shakira, “Las Mujeres Ya No Lloran”

Sete anos depois de “El Dorado”, Shakira finalmente nos entrega “Las mujeres ya no lloran“, seu décimo segundo álbum de estúdio, recheado de colaborações poderosas e alguns hits já conhecidos. É claro que, com um título desses, não há dúvidas: essa Shakira que surge é mais forte, mais direta e cheia de recados para o mundo (e talvez, para uns e outros exs). Mas será que a música reflete toda essa transformação? Vamos nessa viagem que é “Las mujeres ya no lloran“.

Crítica: Shakira, “Las Mujeres Ya No Lloran” | Foto: Reprodução

O álbum abre com “Puntería”, parceria com Cardi B. Aqui, Shakira brinca com o electropop e uma pitada de EDM, numa faixa que busca ser ousada e desinibida. Mas mesmo com toda a energia, não traz muita inovação. A versão “Vinyl Edition” que fecha o álbum também não adiciona nada de novo. Já “La fuerte”, com Bizarrap, é aquela continuação do hit “Shakira: Bzrp Music Sessions, Vol. 53” que, apesar de ter incendiado as redes e acendido a polêmica Shakira x Piqué, agora aparece com uma batida de slap house que poderia ter ousado mais. E o remix de Tiësto? Talvez pudesse ter ficado fora.

Quando “Tiempo sin verte” chega, temos Shakira se reconectando com suas raízes do pop rock, misturando cordas acústicas e elétricas em uma tentativa nostálgica. É uma música bonita, mas perde força quando comparada a “Cómo, dónde y cuándo“, que nos lembra a Shakira dos tempos de “¿Dónde están los ladrones?”, com toda aquela intensidade que a fez um ícone. Se você estava com saudades desse lado mais roqueiro dela, aqui é o lugar.

Crítica: Shakira, “Las Mujeres Ya No Lloran” | Foto: Reprodução

Falando de hits, “Cohete“, ao lado de Rauw Alejandro, traz uma mistura bem produzida de synthpop e electropop. Porém, falta algo para ser tão memorável quanto “Te felicito”, que ainda é o grande destaque das parcerias com Rauw. E, enquanto isso, “(Entre paréntesis)” e “El jefe” seguem a moda do regional mexicano e dos corridos tumbados, mas sem oferecer grandes inovações. São aquelas músicas que cumprem tabela no mercado, mas sem brilho próprio.

Quando chega “Nassau”, temos um pop tropical que flerta com os afrobeats, mas, novamente, parece não alcançar todo o potencial melódico que poderia. Situação similar ocorre com “Monotonía“, uma bachata com Ozuna que, apesar de simpática, só gruda no ouvido depois de várias escutas.

Agora, falando de baladas, temos “Última“, que promete ser a grande despedida de Shakira sobre o fim de seu relacionamento com Piqué. Só que, devido à sua posição no tracklist, o impacto emocional fica meio apagado. Ainda assim, a faixa traz um toque de adult contemporary bem próximo daquelas baladas que gostamos de ouvir numa tarde de chuva. E se o seu lado sentimental está à flor da pele, “Acróstico”, dedicada aos filhos Milan e Sasha, é um desses momentos delicados que, mesmo flertando com o piegas, conseguem emocionar.

Crítica: Shakira, “Las Mujeres Ya No Lloran” | Foto: Reprodução

Por fim, temos os reggaetons mais clássicos – e um tanto genéricos – como “TQG”, com Karol G, e “Copa vacía”, com Manuel Turizo. São faixas que seguem as tendências do mainstream e, embora não tragam grandes surpresas, cumprem bem o papel de hits fáceis de dançar.

Las mujeres ya no lloran” se posiciona como um daqueles álbuns feitos para digerir uma grande desilusão amorosa, algo que já vimos em projetos como “Lemonade” de Beyoncé e “21” de Adele. Mas, enquanto esses álbuns foram verdadeiras revoluções musicais, o de Shakira deixa a desejar em alguns pontos. O projeto é uma colagem de tendências musicais atuais – reggaeton, corridos, pop rock, slap house – que tenta trazer versatilidade, mas, no fim, acaba como uma mistura irregular.

Do ponto de vista emocional, Shakira cumpre o objetivo de expurgar seus sentimentos, de deixar claro que, apesar de tudo, ela está por cima. No entanto, as letras muitas vezes soam básicas, repetitivas, como se ela estivesse exausta de gritar a mesma mensagem. Ainda assim, a produção é polida, e sua voz nunca é abafada pelos arranjos, o que é um ponto positivo.

No fim, “Las mujeres ya no lloran” não é o álbum mais memorável de sua carreira, mas é um grito de independência e força, ainda que com algumas faixas que poderiam ser mais ousadas. Não vai figurar entre os grandes clássicos da cantora, mas também não é um erro. É Shakira sendo Shakira.

Nota Final: 68/100

Sair da versão mobile