É quase inacreditável como “Smurfs” consegue errar tanto em tão pouco tempo. O filme parece ter sido feito com a única intenção de enfiar o maior número possível de ideias no liquidificador, apertar o botão e ver no que dá. O resultado é um caos narrativo que atropela qualquer carinho que ainda restava pelo universo criado por Peyo.
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A história até começa com um fio de lógica: Papai Smurf é sequestrado pelos irmãos Gargamel e Razamel, dois feiticeiros tão parecidos que mais parecem clones do que personagens com alguma individualidade. Isso já bastaria para soar genérico, mas o roteiro resolve caprichar na bagunça quando joga Smurfette e seus companheiros direto no nosso mundo, mais especificamente em Paris, num repeteco preguiçoso do que os filmes live-action da Sony já tinham feito lá atrás. E a partir daí, é como se o longa entrasse num delírio sem fim.
É impressionante a quantidade de conceitos aleatórios que o filme tenta encaixar, de multiverso a piadinhas corporativas, sem nunca parar para perguntar se isso faz algum sentido dentro do espírito dos Smurfs. Para piorar, surgem criaturas como os Snooterpoots, claramente criados para virar produtos licenciados, mas completamente desnecessários, já que os próprios Smurfs sempre foram suficientes para esse papel. É como se a Illumination tivesse inventado minions genéricos para coexistirem com os minions originais.
No meio dessa salada, sobra pouco espaço para qualquer vínculo afetivo com o que está na tela. Papai Smurf e Ken, seu suposto irmão, são idênticos em tudo, de modo que fica difícil sentir que existe uma relação de verdade ali. O mesmo vale para Gargamel e Razamel, que compartilham o mesmo dublador e basicamente o mesmo objetivo, tornando toda a intriga previsível e, pior, desinteressante. A sensação é de estar assistindo ao mesmo sanduíche cortado em dois, fingindo ser algo novo.
Se o roteiro é um festival de excessos mal costurados, o humor não faz melhor. As piadas não têm punchline, as referências soam deslocadas (um personagem cita LinkedIn no meio da trama, por exemplo) e o público fica à deriva tentando entender onde foi parar a graça. Nem mesmo o elenco consegue salvar. Rihanna, que empresta a voz à Smurfette, demonstra zero carisma vocal, James Corden ao menos parece tentar dar alguma vida ao seu personagem, mas o resto soa entediado, como se estivesse lendo o texto pela primeira vez na cabine de gravação. Nem o DJ Marshmello escapou do constrangimento, dublando uma tartaruga que não tem utilidade nenhuma no enredo.
A única vitória do filme é visual. Os animadores da Cinesite fizeram um trabalho admirável ao manter o traço de Peyo vivo com um cel shading bonito e algumas gags visuais criativas que distraem temporariamente do desastre narrativo. A Vila dos Smurfs, por exemplo, é linda, mas o filme não tem paciência de deixá-la brilhar, preferindo saltar de cenário em cenário sem profundidade.
No fim, “Smurfs” parece mais um sintoma de uma indústria que sufoca ideias originais para perseguir franquias exauridas, na esperança de faturar em cima do reconhecimento de marca. É um filme que poderia muito bem entrar para o mesmo balaio de “Emoji: O Filme” como representante do pior tipo de cinema infantil, aquele que trata o público como consumidor passivo de bugigangas coloridas, sem se preocupar em contar uma boa história. Se restava algum afeto pelo universo dos Smurfs, talvez este seja o momento de deixá-los descansar por uns bons anos.
“Smurfs”, direção de Chris Miller (LX), com Rihanna, James Corden e JP Karliak. Disponível nos cinemas.
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