Existe uma melancolia que se arrasta discretamente por filmes sobre reencontros, sobre amizades que racham com o tempo e sobre a incapacidade de lidar com o que um dia foi intenso. “The Ballad of Wallis Island” entende que essa tristeza é inseparável da comédia, da farsa, da caricatura da vida adulta, e transforma isso numa obra sensível, meticulosamente construída, que opera entre o absurdo e o profundamente humano.
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A estrutura dramática é direta, mas nunca rasa. A narrativa se ancora no gesto de um reencontro forçado, mas as camadas que emergem dessa premissa vão muito além da superfície. O filme observa a masculinidade, o orgulho, a memória e a culpa com precisão cirúrgica, sem precisar verbalizar tudo. É no que não é dito que ele mais brilha. O silêncio constrangedor entre personagens carrega mais peso do que qualquer monólogo. O desconforto é usado como ferramenta de aproximação. O humor, por sua vez, nunca surge como alívio, mas como extensão natural do que é doloroso demais para ser dito com seriedade.
Tecnicamente, a direção é sóbria e cuidadosa. A mise-en-scène aposta na contenção, no uso do espaço como metáfora do confinamento emocional. A ilha não é apenas um cenário, mas o espelho da desorientação interna de seus personagens, e a fotografia entende isso com uma paleta que oscila entre o melancólico e o patético. Tudo pulsa como se o tempo tivesse parado, criando um ambiente onde a nostalgia e a vergonha convivem lado a lado.
O trio de atores segura o filme com uma química que raramente se vê em obras desse tipo. A construção das performances respeita o passado compartilhado dos personagens, mas jamais força intimidade onde não há mais afeto, apenas o eco dele. O jogo entre frustração e admiração mútua é doloroso de assistir. Mas necessário. Porque o filme insiste que confrontar os fantasmas é a única forma de caminhar para algum tipo de redenção.
“The Ballad of Wallis Island” não está interessado em reencontros catárticos ou em arcos de superação fáceis. Ele se dedica a mostrar como o afeto pode se desgastar, como a gentileza pode ser confundida com fraqueza, e como, às vezes, só resta à arte registrar o que foi perdido. Em tempos de reconexões digitais e vínculos voláteis, esse filme resiste com algo mais poderoso: memória, cicatriz e vulnerabilidade.
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