A ficção científica sempre encontrou um lar na tela grande por sua capacidade de provocar reflexões profundas sobre tecnologia, sociedade e emoções humanas. No entanto, dentro desse gênero, existe uma linha tênea entre narrativas instigantes e meros espetáculos visuais que confundem grandiosidade com qualidade. “The Electric State”, novo filme dos Irmãos Russo, infelizmente, pertence ao segundo grupo. Disponível na Netflix a partir de hoje, 14 de março de 2025, a produção tenta emular um senso retro futurista, mas fracassa tanto em execução quanto em propósito.
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Baseado na graphic novel de Simon Stålenhag, o filme se passa em uma versão alternativa dos anos 90, na qual robôs conscientes coexistem com humanos. A trama segue Michelle (Millie Bobby Brown), uma jovem órfã que embarca em uma jornada pelo oeste americano ao lado de um robô enigmático, Cosmo, acreditando que ele pode estar sendo controlado por seu irmão falecido. Relutantemente, ela se junta ao andarilho Keats (Chris Pratt) e ao robô sarcástico Herman (dublado por Anthony Mackie). O problema, no entanto, é que essa história, que tinha um potencial imagético e narrativo considerável, é contada de forma tão inerte que se torna um teste de paciência.
Os Irmãos Russo demonstram aqui o mesmo problema que afetou “Agente Oculto”: uma direção sem identidade, que prioriza o volume de ação e efeitos especiais em detrimento da substância. Em um orçamento de US$ 320 milhões, a pergunta inevitável é: onde esse dinheiro foi parar? Certamente não foi para o CGI, que parece datado e, em muitos momentos, francamente risível. O design dos robôs não carrega a elegância futurista da obra original, tampouco possui qualquer carisma próprio. São amontoados de metal gerados por computador que destoam do mundo ao redor.
A fotografia e a direção de arte, que poderiam ter sido um diferencial, acabam reforçando o problema. Existe uma tentativa de criar uma estética cyberpunk misturada a um faroeste distópico, mas nada se encaixa organicamente. O resultado é um filme de visual genérico, incapaz de criar uma atmosfera imersiva. As cores lavadas e a iluminação artificial apenas amplificam a sensação de que estamos assistindo a um produto fabricado em massa, sem alma.
No campo das atuações, Millie Bobby Brown e Chris Pratt entregam performances que oscilam entre a apatia e o exagero. Brown, que demonstrou potencial em “Stranger Things”, parece presa a uma personagem sem camadas emocionais. Sua jornada nunca convence porque nunca sentimos seu sofrimento de verdade. Pratt, por outro lado, está em um modo automático que beira a paródia. Ele se apoia nas mesmas expressões e maneirismos de sempre, sem qualquer compromisso com a construção de um personagem tridimensional. Juntos, eles não têm qualquer química, tornando o filme ainda mais arrastado.
A estrutura narrativa também é desastrosa. “The Electric State” se desenrola de maneira previsível, reciclando clichês do gênero sem adicionar nada de novo. O roteiro parece seguir um checklist de momentos obrigatórios: cenas de perseguição, revelações melodramáticas e confrontos sem impacto. Os Irmãos Russo tentam criar um tom emocionalmente carregado, mas nunca conseguem justificar os momentos de suposta comoção. Nada no filme parece merecer a grandiosidade que ele almeja.
Mais grave do que suas falhas individuais é o que “The Electric State” representa: um sintoma de uma Hollywood cada vez mais obcecada com franquias e grandes orçamentos, mas incapaz de investir em narrativas autênticas. Os US$ 320 milhões gastos poderiam ter financiado dezenas de produções independentes inovadoras, dando espaço para vozes criativas emergentes. Em vez disso, foram despejados em um projeto vazio, desprovido de qualquer ambição artística real.
Se “The Electric State” tem algum valor, é como um alerta. Ele exemplifica como uma direção burocrática, um roteiro genérico e um elenco desmotivado podem transformar uma premissa promissora em um desastre cinematográfico.
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