“The Friend” é uma adaptação sensível do livro homônimo de Sigrid Nunez que se constrói sobre a premissa da perda e se desenvolve ao redor dos rituais emocionais do luto, tendo como figura central uma mulher solitária e um cão igualmente deslocado. Com direção de Scott McGehee e David Siegel, o longa apresenta uma estrutura narrativa que se divide entre o drama existencial humano e a convivência inesperada entre uma escritora e um Dogue Alemão deixado por seu falecido mentor. A obra, embora rica em potencial e visualmente refinada, enfrenta dificuldades em equilibrar seus dois eixos dramáticos centrais, o que limita seu impacto emocional.
O filme já estreou nos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há previsão de estreia.
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Naomi Watts interpreta Iris com precisão e contenção, entregando uma performance que sustenta o filme nos momentos mais contemplativos. Sua representação de uma mulher que vive o luto silenciosamente, tentando encontrar sentido em meio à ausência, é construída com nuances que traduzem bem o tom introspectivo da obra. Ao seu lado, Bill Murray aparece apenas em flashbacks, mas sua presença fora de cena ancora a narrativa, estabelecendo o tipo de vínculo que justifica emocionalmente o enredo. O restante do elenco, com destaque para Constance Wu, Ann Dowd e Carla Gugino, cumpre bem a função de ampliar a experiência emocional de Iris sem interferir no foco intimista do roteiro.
O destaque inesperado do filme é Apollo, o imenso Dogue Alemão interpretado por Bing. Ao invés de ser um mero elemento dramático, o cão assume função simbólica: é tanto o legado deixado por Walter quanto o catalisador da reconstrução emocional de Iris. Ainda assim, a insistência do roteiro em enfatizar o vínculo humano-animal por meio de cenas repetitivas e previsíveis, como o cão dominando a cama, destruindo o apartamento ou forçando a protagonista a reavaliar decisões compromete parte da autenticidade emocional que o filme tenta cultivar. A carga simbólica do animal acaba se tornando excessivamente literal.
Visualmente, “The Friend” é irretocável. A fotografia de Giles Nuttgens explora a dicotomia entre o caos urbano de Nova York e o isolamento emocional de Iris. Os ambientes internos, com uso de sombras suaves e luz natural, reforçam o tom claustrofóbico do luto, enquanto os planos externos da cidade funcionam como contraponto de um mundo que continua se movendo, indiferente à dor particular da protagonista. A direção de arte, por sua vez, é contida e eficaz, contribuindo para a atmosfera melancólica que permeia todo o filme.
Contudo, o maior desafio de “The Friend” está em sua estrutura narrativa. Ao tentar desenvolver paralelamente a perda de um amigo íntimo e a adaptação à convivência com o animal, o roteiro falha em fundir essas duas linhas em uma só trama coesa. O resultado é um filme que parece dividido em dois blocos: o drama humano, que surge tardiamente e com pouca força, e o drama canino, que consome boa parte do tempo de tela com conflitos pouco originais. A tentativa de transformar esse vínculo em algo catártico acaba minando a complexidade do luto real, substituindo-o por uma ternura fabricada.
Além disso, o ritmo do filme sofre com uma cadência desigual. Há trechos longos em que a narrativa se arrasta, especialmente no segundo ato, e os momentos de verdadeira emoção se concentram quase exclusivamente nos minutos finais. A condução introspectiva que poderia ter se traduzido em profundidade emocional, muitas vezes resvala no sentimentalismo superficial. Há sinceridade na abordagem, mas falta densidade dramática.
Ainda assim, há méritos a serem reconhecidos. A sequência final do filme é eficaz e oferece uma resolução sensível, conduzida com delicadeza. O encerramento evita o melodrama e recorre à contemplação como forma de fechamento emocional. Essa escolha reforça a intenção estética e narrativa dos diretores, mesmo que grande parte do percurso até esse ponto tenha soado previsível.
“The Friend” é um filme que exibe boa intenção, produção elegante e performances honestas, mas que jamais encontra o equilíbrio entre emoção genuína e dramaturgia eficaz. A estrutura desalinhada entre seus dois núcleos narrativos, aliada a uma abordagem por vezes óbvia dos temas propostos, enfraquece o potencial do material de origem. Para quem busca uma obra de luto mais profunda e transformadora, o filme oferece apenas lampejos de potência. Para quem procura um drama sereno com toques de humanidade e beleza visual, pode funcionar como uma experiência delicada, ainda que passageira.
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