Ícone do site Caderno Pop

Crítica: “The Front Room”

Existem filmes que até parecem saber por onde começar, mas simplesmente esquecem de continuar. “The Front Room” tenta ser uma mistura esperta de “Rosemary’s Baby” com “A Visita”, mas se perde logo na base e passa o resto da projeção esticando uma premissa que nunca ganha fôlego. A estreia dos irmãos Eggers como diretores poderia ser, no mínimo, curiosa, mas entrega um longa morno, genérico e preso dentro de uma casa sem susto, sem tensão e sem roteiro.

Crítica: “The Front Room”

A trama até flerta com algo promissor. Uma mulher grávida, abalada por um aborto recente, se vê obrigada a dividir o lar com a sogra uma figura bizarra, imprevisível, quase grotesca. É a receita clássica do horror doméstico: o espaço da intimidade se transforma em ameaça, o estranho invade o cotidiano, o familiar vira armadilha. Mas o problema é que essa invasão nunca se desenvolve de verdade. Fica tudo estacionado num limbo onde o suspense ameaça aparecer, mas jamais se materializa.

O filme se contenta em parecer estranho, quando deveria se esforçar para ser incômodo. A direção tenta bancar o desconforto com enquadramentos tortos, silêncio esticado, diálogos que caminham para o absurdo. Só que tudo isso fica pela metade. A narrativa não escancara o surreal, nem abraça de vez o humor ácido, nem aposta no terror físico. Fica girando em torno de um ponto que nunca se transforma em algo concreto.

Kathryn Hunter até parece pronta para carregar o filme nas costas, com sua presença inquietante e um olhar que grita ameaça. Mas a personagem, Solange, é mal construída, quase caricata, e passa de possível vilã perturbadora a alívio cômico involuntário. Falta densidade, falta intenção, falta material para que ela seja mais do que uma anomalia no canto da sala.

Brandy Norwood está correta, segura a protagonista com dignidade, mesmo quando o texto lhe dá pouco com o que trabalhar. Existe tensão no olhar, existe desconforto no corpo, existe verdade. Mas tudo isso se perde em um roteiro frouxo, com diálogos preguiçosos e situações repetitivas. O filme tenta parecer uma crítica social, depois tenta parecer uma metáfora sobre maternidade, depois tenta ser um estudo psicológico, e no fim não é nada disso com firmeza.

E o tal “twist” final? Uma tentativa tão sem energia que parece saída de um rascunho descartado de filme B. A surpresa não surpreende, o impacto não vem, e o encerramento só reforça a sensação de que o filme gastou 86 minutos prometendo algo que nunca entregaria.

O maior pecado de “The Front Room” talvez seja a sua covardia narrativa. Tinha espaço para ousar, para exagerar, para virar uma loucura camp de horror corporal e escatologia dramática. Mas a direção parece ter medo de pisar fundo. Fica tudo limpo demais, contido demais, tímido demais. E aí, nem o desconforto funciona.

O filme tenta brincar com arquétipos mas sem profundidade. A sensação final é de um ensaio mal-acabado, uma ideia que não passou da sinopse. Visualmente genérico, narrativamente raso e tematicamente vazio, “The Front Room” é o típico projeto que parece mais interessado em parecer inteligente do que em ser envolvente.

É difícil entender o que fez a A24 apostar nessa obra. Ainda que a produtora tenha um histórico de apoiar filmes esquisitos e provocativos, dessa vez o estranho não foi o suficiente. Faltou alma, faltou coragem, faltou cinema.

“The Front Room”
Direção: Max Eggers, Sam Eggers
Elenco: Brandy Norwood, Kathryn Hunter, Andrew Burnap
Disponível em: Prime Video

Avaliação: 1 de 5.

Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.

Sair da versão mobile