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Crítica: The Neighbourhood, “Ultrasound”

“Ultrasound” da banda The Neighbourhood parte de uma ambição evidente. O projeto tenta expandir o vocabulário sonoro de uma banda que sempre flertou com o experimental, apostando em densidade, camadas e texturas atmosféricas que funcionam como motor estrutural de quase tudo aqui. Existe intenção, existe busca, existe vontade de criar algo que soe maior que o próprio conjunto.

Crítica: The Neighbourhood, “Ultrasound”

O disco acerta quando mergulha em estruturas mais abertas, com timbres eletrônicos que constroem ambientes interessantes e sugerem caminhos que poderiam ser mais explorados. Há momentos em que “Ultrasound” cria uma sensação de movimento interno tão forte que o ouvinte quase sente a música respirando. São instantes de inspiração genuína, capazes de mostrar que a banda sabe manipular atmosfera, intensidade e espacialidade com alguma precisão.

Em contrapartida, o álbum perde força quando tenta equilibrar esse experimentalismo com uma estética mais acessível. A produção busca um diálogo entre ideias expansivas e formatos tradicionais, e essa costura raramente encontra equilíbrio. A impressão é de que cada faixa tenta compensar o excesso da anterior, gerando um efeito de instabilidade que afeta a unidade do trabalho. As escolhas de mixagem e a distribuição dos elementos frequentemente criam um desconforto que não parece intencional.

O maior ponto de atrito está na falta de direção clara. Há bons fragmentos, há texturas sedutoras, há lampejos criativos, porém tudo isso se dilui em uma estética que oscila entre o contemplativo e o disperso. O disco sugere um conceito sólido, mas entrega algo que soa inacabado, como se estivesse sempre prestes a chegar em algum lugar que nunca se concretiza. A sensação final é de uma obra que tenta conversar com profundidade, mas acaba se perdendo dentro do próprio eco.

Mesmo assim, “Ultrasound” guarda valor em seus riscos. Em meio ao excesso, existe coragem. Em meio às falhas, existe identidade. O álbum talvez não alcance o impacto artístico que pretende, porém demonstra uma banda que ainda está evoluindo suas ferramentas, testando limites e decidindo qual linguagem deseja assumir. Para alguns ouvintes, essa fase de transição pode soar frustrante. Para outros, pode ser justamente o que dá curiosidade para continuar acompanhando o grupo.

“Ultrasound” é irregular, instável e por vezes disperso, mas também carrega faíscas de algo que poderia ser maior. Talvez este álbum funcione mais como laboratório do que como afirmação. Uma obra com problemas, mas com uma inquietação criativa que merece ser observada.

Nota final: 70/100

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