Existe um lugar perigoso onde o faroeste encontra o piloto automático. É exatamente onde “The Unholy Trinity” se acomoda. Estrelado por nomes de peso como Pierce Brosnan e Samuel L. Jackson, o filme tenta se vender como um épico moderno do Velho Oeste, mas entrega uma narrativa entorpecida, que caminha sem direção até ser tarde demais para resgatar qualquer impacto dramático.
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É o tipo de produção que tem mais presença de tela do que alma de verdade. A promessa de um confronto moral entre figuras antagônicas se perde no próprio vazio do roteiro, que constrói personagens com o mínimo de profundidade exigida para que a trama ande. A base do enredo até flerta com clássicos do gênero, mas o que poderia ser uma boa revisita à tradição do western acaba se tornando um exercício de linguagem cansado e desinteressado.
O maior problema aqui não está na encenação da violência ou na estética do deserto, mas na falta de densidade dramática que sustente o trio de protagonistas. É como se tudo estivesse lá por obrigação: a vingança, a redenção, o passado mal resolvido, o justiceiro silencioso. Mas nenhum desses elementos é desenvolvido com o cuidado necessário para provocar o espectador. O jovem protagonista, por exemplo, atravessa a história como se fosse um avatar genérico de jornada iniciática, sem passado crível, sem presença real, sem conflitos internos que ressoem. É como se ele estivesse descobrindo sua história ao mesmo tempo que o público, o que pode até funcionar em thrillers de mistério, mas aqui só escancara o vazio emocional do personagem.
Pierce Brosnan e Samuel L. Jackson até seguram a onda com seu carisma natural, mas estão visivelmente maiores do que o roteiro que receberam. Jackson, inclusive, parece pouco interessado em se adaptar ao clima de época, e atua como se estivesse em 2025, o que pode ser divertido por alguns minutos, mas logo revela um desalinho entre direção e proposta de gênero. Brosnan, por outro lado, tenta manter a postura clássica de xerife durão, mas seus esforços esbarram na previsibilidade das situações.
A sensação constante é de desperdício. Desperdício de elenco, de locação, de premissa. O filme jamais engrena porque parece incapaz de decidir o que quer ser. Faltam surpresas, faltam diálogos marcantes, falta até mesmo aquele senso de perigo inevitável que torna o faroeste um gênero visceral por natureza. O conflito central surge sem preparo, explode sem consequência e termina sem deixar marcas. E isso, no cinema, é quase imperdoável.
“The Unholy Trinity” poderia funcionar melhor como série, onde haveria tempo de sobra para construir camadas, explorar memórias, desenvolver rivalidades. Mas comprimido em pouco mais de uma hora e meia, o que sobra é uma sucessão de eventos com cheiro de déjà vu. A fotografia é funcional, o figurino é genérico, a trilha sonora mal se faz notar. Tudo opera no modo mínimo.
Em tempos onde o western busca novas formas de se expressar, não há mais espaço para filmes que apenas repetem fórmulas sem colocar nada de si em cena. “The Unholy Trinity” é a lembrança de que grandes nomes no pôster não garantem um grande filme. E que, no fim das contas, até o deserto precisa de boas ideias para deixar de ser só areia.
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