“Hurry Up Tomorrow” encerra a trilogia de The Weeknd de forma ambiciosa e provocativa. Experimental, revolucionário e futurista, o álbum expande a estética sonora estabelecida em “After Hours” e “Dawn FM”, mas traz uma particularidade intrigante: sua brevidade narrativa. Ao final, a sensação é semelhante à de assistir a um filme psicológico que, apesar de satisfatório, deixa algumas pontas soltas. No entanto, talvez isso fale mais sobre o atual modelo de consumo do que sobre o disco em si.
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Desde seus primeiros teasers, The Weeknd sugeriu que este seria seu trabalho mais ousado. A referência à citação de Nietzsche “When you gaze long enough into the abyss, the abyss gazes also into you” já antecipava a abordagem filosófica e obscura do projeto. A ideia de uma trilogia baseada na “Divina Comédia” de Dante Alighieri, com “After Hours” representando o Inferno, “Dawn FM” o Purgatório e “Hurry Up Tomorrow” o Paraíso, cria um arco narrativo que atinge aqui seu clímax e, ao mesmo tempo, seu desfecho. Mas o Paraíso, neste caso, não é sinônimo de redenção ou conforto absoluto ele é um espaço transitório, onde luz e sombra ainda coexistem.
Musicalmente, The Weeknd continua a ditar tendências, equilibrando o alternativo e o mainstream com maestria. Sua abordagem une elementos familiares da indústria a um olhar inovador, antecipando o que pode definir o futuro do pop e do R&B. O álbum se apoia fortemente em sintetizadores atmosféricos, batidas minimalistas e vocais processados, criando uma experiência sonora que remete tanto ao cinema futurista quanto à dance music.
Mas há um detalhe essencial: diferente de seus predecessores, “Hurry Up Tomorrow” não se sustenta tão bem de forma independente. Ele é profundamente interdependente da trilogia, ampliando temas e sonoridades previamente explorados. Enquanto “After Hours” e “Dawn FM” apresentavam narrativas que podiam ser apreciadas de maneira isolada, este álbum se apoia fortemente na continuidade. Isso, no entanto, não o torna inferior, apenas exige uma escuta mais atenta e comprometida.
A estrutura do álbum reforça essa imersão. Aqui, não há “singles” que se destacam naturalmente como pontos centrais da jornada. Em vez disso, o disco opera como uma única faixa extensa, sem as pausas narrativas mais tradicionais dos anteriores. Isso fica evidente na maneira como os arranjos se interligam, criando uma progressão fluida e quase cinematográfica. Essa escolha pode causar certo estranhamento, afastando aqueles acostumados com a acessibilidade pop convencional. Mas, para quem se entrega à experiência como ela foi concebida, há um senso de pertencimento à história, um encerramento inteligente para uma trilogia tão densa e ambiciosa.
O simbolismo da capa do álbum reforça essa sensação de fechamento. O olhar fixo de The Weeknd, carregado de lágrimas de alívio e triunfo, parece convidar o ouvinte a refletir sobre o caminho percorrido até aqui. É uma despedida, mas não um ponto final absoluto. O próprio artista confirmou que este será seu último disco sob o nome “The Weeknd”, o que adiciona uma camada extra de significado ao projeto. Não se trata apenas do encerramento de uma trilogia, mas de uma transição para um novo capítulo artístico.
“Hurry Up Tomorrow” não é um álbum para consumo fácil. Ele exige tempo, paciência e, acima de tudo, disposição para absorver sua proposta narrativa. Se antes explorávamos o mundo e escolhíamos nossos singles favoritos como guias, aqui a experiência é mais fechada e imersiva. O disco não funciona faixa a faixa ele funciona como uma peça única, um fluxo contínuo de sons e emoções. Essa escolha pode criar um ligeiro distanciamento para alguns ouvintes, mas, para aqueles que aceitarem a jornada, há uma recompensa única: o privilégio de testemunhar um artista no auge de sua criatividade, encerrando um ciclo para dar início a algo ainda maior.
“Quando você olha por muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você.”
Nota final: 85/100
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