“Thunderbolts” representa uma tentativa clara de reconfigurar o tom do Universo Cinematográfico Marvel em uma direção mais sombria, emocionalmente densa e esteticamente crua. Com foco em personagens dilacerados por seus próprios históricos de violência e culpa, o filme explora a vulnerabilidade como motor narrativo de um grupo que, longe de ser heróico em sentido tradicional, se forma em torno da necessidade de pertencimento e redenção.
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A direção aposta em uma atmosfera que privilegia a imperfeição visual e moral. A decisão de filmar majoritariamente em locações práticas em vez de recorrer a fundos verdes e cenários artificiais confere ao longa uma textura mais realista e menos polida, o que reforça o senso de humanidade e decadência que permeia a narrativa. Essa escolha estética conversa diretamente com o estado psicológico dos personagens, sobretudo Yelena Belova, cuja caracterização física desleixada, com roupas casuais durante missões reflete a desconexão emocional da personagem com o papel que é forçada a desempenhar.
Florence Pugh domina a tela em uma performance que equilibra vulnerabilidade, cinismo e impulsividade. Sua interpretação não apenas ancora a narrativa, como também personifica a principal tensão do filme: a luta interna entre o passado irredimível e a busca por algum resquício de dignidade futura. O trabalho de Lewis Pullman, como contraponto, adiciona um grau de complexidade emocional importante, delineando um personagem que transita entre bravura e autodestruição com autenticidade.
O roteiro, embora carregado de diálogos expositivos típicos do gênero, revela esforço em abordar temas mais densos como trauma, manipulação política e alienação. A condução da trama evita a grandiloquência habitual da Marvel em favor de uma progressão mais contida e intimista, utilizando o pano de fundo de crises institucionais e colapsos pessoais para desenvolver seus conflitos. Mesmo os elementos de humor (presença inevitável no DNA do MCU) surgem de maneira mais seca e muitas vezes melancólica, evitando quebrar a tensão dramática de forma gratuita.
O Sentinela, personagem complexo e historicamente difícil de adaptar para o cinema, é tratado com uma surpreendente sensibilidade, equilibrando o potencial destrutivo do Vácuo com a fragilidade emocional que define seu alter ego humano. O design de produção do traje e a representação visual dos poderes do Sentinela exibem um cuidado técnico raro dentro das produções mais recentes da franquia, contribuindo para consolidar o personagem como uma presença inquietante e crucial na dinâmica da equipe.
Narrativamente, “Thunderbolts” adota uma estrutura que privilegia o colapso gradual em vez do triunfo épico. O filme se concentra mais nos dilemas morais que emergem da missão do grupo do que nos próprios combates, um enfoque que reforça a intenção de reposicionar o MCU para um público que deseja histórias menos previsíveis e mais emocionalmente complexas. A sequência de abertura em Kuala Lumpur, por exemplo, funciona como uma síntese da abordagem geral do filme: ação intensa com subtexto emocional evidente, sem recorrer a heroísmos fáceis.
Ainda que algumas escolhas de roteiro sejam excessivamente literais na articulação dos temas (especialmente nas críticas sociopolíticas encampadas por Valentina Allegra de Fontaine), a direção demonstra um controle suficiente para que o subtexto sobre manipulação e deterioração institucional permaneça relevante sem se tornar panfletário.
“Thunderbolts” não só expande o universo Marvel em termos narrativos, como também corrige algumas das falhas mais criticadas das últimas fases do estúdio. A química orgânica entre os personagens, a ancoragem emocional das motivações individuais e o investimento em estética prática são sinais de um esforço consciente de reconstrução. Trata-se de um filme que, mesmo imperfeito em alguns ritmos e transições, demonstra coragem ao apostar em imperfeição e angústia como suas maiores forças.
A cena pós-créditos, longe de ser mero fan service, reconfigura relações de poder importantes no universo estabelecido, sinalizando que, talvez, a Marvel esteja finalmente disposta a lidar com a complexidade de seus próprios mitos.
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