O Turnstile retorna em “Never Enough” pronto para tensionar ainda mais as fronteiras que já vinha desafiando há alguns anos. O que antes era um sopro fresco dentro da cena hardcore agora ganha contornos muito mais complexos, inquietos e absolutamente conscientes de sua própria evolução. Não se trata mais de brincar de quebrar padrões. Trata-se de reescrevê-los.
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É impossível ignorar o quanto o disco soa meticulosamente projetado para provocar contrastes. Se por um lado permanece visceral, urgente e pulsante, por outro abraça nuances que atravessam o hardcore com naturalidade desconcertante, como se guitarras ríspidas, texturas eletrônicas, grooves inesperados e camadas quase etéreas estivessem destinadas, desde sempre, a coexistir no mesmo espaço. E aqui, de fato, coexistem.
Há um amadurecimento evidente, não só na execução, mas na própria intenção sonora. A banda não se limita a replicar fórmulas que funcionaram no passado. Prefere dobrar a aposta, apostando em um senso de expansão que reverbera em cada detalhe, seja na produção mais polida, nas escolhas harmônicas que desafiam expectativas ou na forma como entrega dinâmicas que ora conduzem à catarse, ora convidam à contemplação.
O disco dialoga diretamente com o peso da própria história, mas sem a necessidade de se agarrar a ela. A saída de um dos membros fundadores e a chegada de uma nova guitarrista parecem ter funcionado como catalisadores para um reposicionamento estético e emocional. Há aqui uma banda que não precisa mais provar nada a ninguém, e justamente por isso entrega seu trabalho mais destemido até agora.
“Never Enough” não se interessa por rótulos, nem se preocupa em agradar puristas. Prefere tensionar, provocar, desconstruir e, principalmente, convidar o ouvinte a uma experiência que ultrapassa qualquer limite pré-estabelecido entre gêneros. Hardcore? Sem dúvida. Mas também rock alternativo, synth, psicodelia, soul, groove, liberdade. É um trabalho que entende que energia não se mede apenas pela distorção, mas pela forma como se articula a tensão e a liberação, o silêncio e o caos, o peso e o vazio.
É um disco sobre expansão. Sobre entender que intensidade também pode ser sutileza. Que brutalidade pode, sim, caminhar lado a lado com beleza. E que o hardcore não precisa mais ser refém da própria rigidez para seguir sendo transformador.
Nota: 88/100
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