“Don’t Tap the Glass” não é um projeto que pede licença para entrar. Ele invade com personalidade, dança com segurança e se instala com leveza. E essa aparente leveza é, talvez, o gesto mais sofisticado de um artista que domina com maestria a arte de torcer expectativas. Tyler, The Creator chega em 2025 com um álbum que deixa de lado qualquer necessidade de afirmação e opta por um caminho que é, ao mesmo tempo, o mais despretensioso e o mais corajoso de sua carreira. É um disco que não grita, mas domina o ambiente. Que não quer ser complexo, mas revela camadas riquíssimas a cada nova audição. Que parece casual, mas é meticulosamente construído.
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O ponto central do álbum está no seu domínio absoluto da linguagem musical contemporânea, sem abrir mão de referências sólidas que cruzam décadas de som. O hip-hop é o ponto de partida, mas o que se ouve aqui é uma colagem de gêneros, estéticas e sensações que orbitam em torno de uma ideia de fluidez e liberdade criativa. Funk setentista, disco music, soul psicodélico, synthpop e até traços do R&B alternativo se entrelaçam com precisão matemática em batidas inventivas, refrões contagiantes e grooves que parecem desafiar a imobilidade. Nada é gratuito. Nada é feito para parecer cool. Tyler é cool porque domina a forma, entende o espaço, conhece o silêncio e a tensão. E, principalmente, sabe que o groove só funciona se for construído com inteligência harmônica e respeito à dinâmica.
A produção é, sem dúvida, um dos grandes trunfos do álbum. Cada beat respira, cada elemento ocupa seu lugar com clareza e intenção. A mixagem entrega um equilíbrio raro entre energia e sofisticação. Há uma estética vintage presente em muitos timbres, mas a roupagem geral é moderna, limpa, elegante. Tyler soa confortável, mas nunca acomodado. Ele brinca com as formas, experimenta vozes, alterna entre o rapper e o crooner, dança entre o falado e o cantado com segurança técnica e domínio narrativo. O que se percebe ao longo do disco é um artista plenamente consciente do próprio alcance, capaz de fazer escolhas complexas parecerem simples.
Outro ponto notável está na coerência do projeto. Não há espaço para excessos. Não há sobras. O álbum se desenrola com fluidez, como se fosse um único fluxo contínuo de ideias bem resolvidas. Mesmo com variações rítmicas, trocas de climas e experimentações sonoras, tudo se amarra com naturalidade. É um trabalho que respeita o tempo do ouvinte, que valoriza o andamento, que entende a importância de encantar sem saturar.
Tyler, The Creator chega a um lugar raro em que a sofisticação técnica se traduz em prazer imediato. O disco não exige decodificação. Ele não tenta se provar. Mas é exatamente por isso que revela, com mais força, a maturidade de um artista que já passou por várias fases, já desconstruiu a si mesmo mais de uma vez, já experimentou a catarse, a vulnerabilidade, o caos e o silêncio. Agora, ele oferece movimento. Um movimento pensado, bem executado, vibrante. E, sobretudo, necessário.
“Don’t Tap the Glass” é o tipo de obra que escapa de leituras simplistas. É pop, mas não é superficial. É acessível, mas não é previsível. É leve, mas não é raso. Trata-se de um disco que entende a dança como discurso, a batida como narrativa e a liberdade criativa como ponto de chegada. Um trabalho de precisão, prazer e presença. Tyler não está tentando fazer o melhor disco do ano. Ele está fazendo o disco que precisa ser ouvido agora. E talvez, por isso, seja o melhor que poderia existir neste momento.
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