Hans Petter Moland retorna ao cinema de ação com “Último Alvo”, um thriller que se insere na longa tradição dos filmes de vingança e redenção, capitaneado por Liam Neeson em mais um papel de anti-herói desgastado pelo tempo e pela violência. O roteiro de Tony Gayton constrói uma narrativa que se equilibra entre o existencialismo e a brutalidade, explorando os limites da culpa e do tempo para expiação.
Saiba o que chega aos cinemas em março de 2025

O protagonista, um ex-gângster conhecido apenas como Thug, carrega o peso de sua história nos ombros. A escolha de Neeson para o papel é precisa, pois o ator consolidou sua imagem nesse tipo de personagem desde “Busca Implacável”. O diferencial aqui é a abordagem mais introspectiva: o Thug não busca apenas sobreviver, mas também reconciliar-se com o que restou de sua humanidade. A trama se desenvolve em torno de sua tentativa de se reconectar com sua família, enquanto precisa lidar com o espectro do crime organizado, encarnado na figura de Charlie Connor (Ron Perlman), um chefão do submundo que o vê como uma peça obsoleta de um jogo que não admite fraqueza.
Moland, que já dirigira Neeson no remake americano de “O Cidadão do Gelo”, imprime ao filme um tom melancólico, evitando os maneirismos estilizados que marcaram outros projetos do gênero. A fotografia de Rasmus Videbæk contribui para essa atmosfera, explorando tons frios e composições sombrias que acentuam o clima de decadência moral e física do protagonista. A ação, quando ocorre, é seca e brutal, reforçando a sensação de inevitabilidade da trajetória do Thug. As cenas de combate são menos coreografadas do que o esperado em um filme desse tipo, destacando o peso da idade e a deterioração do corpo do personagem central.
O roteiro, embora siga uma estrutura convencional, tem momentos de subversão interessantes. A presença de um subplot envolvendo a proteção de Kyle Conner (Daniel Diemer) remete a um arquétipo clássico do gênero, mas o filme evita a romantização da figura do mentor. O Thug é um homem quebrado, incapaz de oferecer ao jovem qualquer modelo de futuro viável. Esse pessimismo permeia a narrativa, reforçando o caráter inexorável do destino do protagonista.
Outro ponto digno de nota é o modo como “Último Alvo” trata sua ambientação. A Boston contemporânea do filme é um espaço de transição, onde o passado e o presente colidem. O uso de um Chevelle vermelho da década de 1970 pelo protagonista é um símbolo claro desse deslocamento temporal: ele pertence a uma era que já se foi, mas ainda tenta se mover dentro de um mundo que já não o comporta.
As relações interraciais no filme também merecem atenção. Diferente de outras narrativas de crime que enfatizam tensões raciais de maneira simplista, “Último Alvo” apresenta um protagonista branco da classe trabalhadora cuja neta é negra, assim como sua única amiga. A abordagem é naturalista e evita o didatismo, permitindo que as relações se desenvolvam organicamente dentro da história.
Em termos de ritmo, o filme adota um andamento mais pausado do que se espera de um thriller de ação. Esse pode ser um ponto de frustração para aqueles que procuram uma experiência mais voltada à adrenalina, mas é uma escolha coerente com a proposta do filme. O terceiro ato culmina em uma sequência de confronto inevitável, mas sem qualquer ilusão de triunfo. A ideia de redenção é ambígua, deixando espaço para uma interpretação aberta sobre o real impacto das tentativas tardias do protagonista de corrigir seus erros.
No conjunto, “Último Alvo” é uma obra sólida dentro do subgênero dos thrillers crepusculares. Neeson entrega uma performance contida e eficaz, Moland mantém um controle rigoroso sobre o tom e a direção, e a cinematografia reforça a atmosfera de declínio e fatalismo. Embora não reinvente a roda, o filme oferece um estudo de personagem envolvente e uma reflexão amarga sobre as consequências do passado. Para aqueles que acompanham a trajetória de Neeson no cinema de ação, esta pode ser uma de suas despedidas mais significativas do gênero.
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.