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Crítica: “Um Natal Ex-pecial” (A Merry Little Ex-Mas)

A sensação inicial é simples: existe algo em “Um Natal Ex-pecial” que tenta vestir o espírito natalino como se fosse um suéter confortável, mas a trama se comporta como aquela lã que coça e irrita desde o primeiro minuto. A produção se apoia em uma fórmula tão calculada que, antes mesmo de Kate acender as luzes da árvore, já se antecipa cada curva dramática, cada desencontro emocional e cada conflito reconfortante que deveria aquecer, mas acaba esfriando.

Crítica: “Um Natal Ex-pecial” (A Merry Little Ex-Mas)

Kate, interpretada por Alicia Silverstone, vive o desafio clássico desse tipo de narrativa. Ela sonha com o último Natal perfeito antes de vender a casa da família, como se buscasse congelar no tempo o cheiro de pinho, o barulho do papel de presente e a promessa de que tudo voltará ao lugar. Porém Everett chega, acompanhado de sua nova namorada, e o que era nostalgia vira teste de paciência. A dinâmica funciona como um tabuleiro previsível, no qual cada personagem desempenha exatamente o papel que se imagina, sem tensão verdadeira, sem provocações dramáticas que desestabilizem.

O filme tenta compensar a previsibilidade com um humor leve que pisca para referências pop, de George Clooney a piadas de Harry Potter. Nada disso transforma a experiência, mas adiciona uma camada cosmética que lembra o brilho artificial de um enfeite que parece bonito à distância, mas revela sua fragilidade quando visto de perto. A narrativa opera em piloto automático, como se acreditasse que a simples presença de nomes conhecidos já carregasse o peso emocional que o roteiro não sustenta.

Alicia Silverstone até encontra brechas para entregar momentos honestos. Jameela Jamil surge como aquela participação que parece ter sido aceita entre um compromisso e outro, enquanto Melissa Joan Hart aparece mais como curiosidade do que como contribuição narrativa. O elenco funciona, mas o filme não oferece material que permita transformá-los em algo além de figuras decorativas.

O que mais chama atenção é o esforço do longa para construir um clima de reconciliação enquanto evita qualquer aprofundamento emocional. Tudo é montado em pequenas vinhetas que soam independentes entre si, quase como um compilado de ideias descartadas de outros filmes natalinos. A estrutura lembra uma playlist de Natal repetida há anos: familiar, mas incapaz de surpreender.

“Um Natal Ex-pecial” se apoia na segurança de um formato confortável, só que conforto demais também cansa. A produção entrega exatamente aquilo que se espera, nem mais, nem menos, e por isso deixa a sensação de que poderia ser mais ousada, mais desafiadora, mais consciente da chance de rir de si mesma. Ao fim dos 89 minutos, permanece a impressão de que a história tinha elementos para explorar feridas reais, reencontros profundos e afetos sinceros, mas preferiu a rota mais fácil.

Ainda assim, existe algo simbólico na tentativa do filme em resgatar memórias familiares. É como se dissesse que, às vezes, o Natal é sobre encontrar um pouco de sentido dentro do caos emocional. Só que aqui o caos nunca chega, o sentido nunca se solidifica e a magia fica restrita ao verniz.

O resultado final é um entretenimento morno, daqueles que passam pela tela sem deixar marcas. Funciona para quem busca exatamente isso: um romance leve, sem ambições, pronto para preencher espaço. Mas para quem procura um Natal cinematográfico com personalidade, ousadia e alguma verdade emocional, a experiência fica distante do ideal.

“Um Natal Ex-pecial”
Direção: Steve Carr
Roteiro: Holly Hester
Elenco: Alicia Silverstone, Oliver Hudson, Jameela Jamil
Disponível em: Netflix

Avaliação: 2 de 5.

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