Existe um desafio silencioso em filmes que tentam traduzir o desconforto da adolescência com doçura e irreverência. “Verão de 69” parte de um desejo genuíno de capturar esse momento onde tudo parece estranho, exagerado e transformador. Mas mesmo com boas intenções e alguma sensibilidade no olhar, o filme nunca alcança consistência emocional ou formal para firmar sua presença no gênero.
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É uma obra que se equilibra entre o charme e a hesitação, oscilando entre acertos pontuais e decisões que sabotam a própria fluidez. A trama propõe um rito de passagem, uma travessia de autoconhecimento, mas nunca encontra o tom exato para conduzir o espectador por essa estrada. Falta ritmo, falta uma direção que compreenda que a leveza precisa vir acompanhada de densidade. Não basta apenas ser fofo ou bem-intencionado. O cinema exige estrutura.
O filme tenta atualizar códigos clássicos da comédia adolescente com uma perspectiva mais atualizada, mais inclusiva, mais viva. E há momentos em que essa tentativa se revela promissora, principalmente quando a câmera se permite observar, escutar e não apenas empurrar a narrativa. Mas a instabilidade narrativa mina o impacto. É como se houvesse ali uma série querendo nascer, sufocada dentro de um longa que não entende o próprio tempo.
Há química, há entrega de elenco, há uma vontade de criar afeto. Mas o roteiro, por vezes, se perde em piadas frouxas ou diálogos que soam deslocados, principalmente quando os adultos invadem o campo jovem com discursos que quebram o frescor. O coração do filme está onde a juventude pulsa, onde o corpo ainda não sabe direito como existir no mundo, mas já entende que precisa ser ouvido. É nessa faixa de sensibilidade que a obra brilha, ainda que brevemente.
“Verão de 69” é um retrato que toca em temas importantes com alguma delicadeza, mas parece ter medo de mergulhar de verdade no caos bonito que é crescer. E talvez por isso acabe deixando uma sensação de que algo ficou pela metade. Fica a impressão de um universo com muito mais a oferecer do que o que foi mostrado. O que poderia ser memorável acaba se tornando apenas simpático. E isso, no cinema, quase nunca é suficiente.
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