Escrito por Dino Cantelli e dirigido por Bruno Safadi, “Vítimas do Dia” é um drama nacional que se apoia na tensão e na urgência para contar a história de uma noite decisiva na vida de Daiane (Jéssica Ellen) e Elder (Amaury Lorenzo). Prestes a dar à luz, Daiane tem um desejo repentino e pede ao marido que compre uma fruta. O que deveria ser um gesto trivial se transforma em uma situação de vida ou morte quando Elder, ao sair para atender ao pedido, fica preso dentro de um supermercado após ser atingido por uma bala perdida durante um intenso tiroteio nas proximidades. Ao tomar conhecimento do ocorrido, Daiane entra em trabalho de parto, dando início a uma narrativa paralela: de um lado, a iminência do nascimento, do outro, a luta desesperada pela sobrevivência.
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O filme se destaca como uma das produções nacionais de maior visibilidade no Globoplay, mas sua execução divide opiniões. “Vítimas do Dia” assume um realismo cru, remetendo à cobertura jornalística da violência urbana sem se perder em excessos de exposição midiática. Aqui, o foco recai sobre os cidadãos comuns, aqueles que, sem escolha, se veem aprisionados em um contexto caótico. Não há um aprofundamento sobre criminosos ou forças policiais, tampouco uma contextualização detalhada sobre o evento externo. O espectador acompanha os acontecimentos com a mesma limitação de informações que os personagens, o que cria uma imersão claustrofóbica e uma angústia crescente.
A direção de Safadi opta por um jogo de câmera inquieto e um uso expressivo da luz e da sombra para traduzir o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. O espaço confinado do supermercado reforça o desamparo de Elder, ao mesmo tempo em que a montagem intercala sua situação com a de Daiane, acentuando a conexão emocional entre os dois. No entanto, a tentativa de construir um vínculo emocional com o público através do drama humano nem sempre se traduz em um desenvolvimento sólido de todos os personagens. O roteiro tem ideias claras e levanta questões pertinentes sobre violência urbana e falhas estruturais do Estado, mas em determinados momentos escorrega ao tentar forçar a emotividade.
O simbolismo visual se apresenta de forma marcante, como na cena em que o suco da pitaya escorre pelos dedos de Elder, misturando-se ao sangue e evocando um contraste entre o doce e o ferroso, entre a vida e a morte. É um instante visualmente poderoso, mas que, dentro do contexto geral do filme, acaba sendo um dos poucos momentos de impacto genuíno. Há uma tensão crescente que mantém o espectador apreensivo, e o desfecho, felizmente, evita uma tragédia absoluta, trazendo um alívio necessário após uma jornada tão sufocante.
Como experiência cinematográfica, “Vítimas do Dia” é competente em sua proposta, mas a limitação do formato prejudica uma exploração mais aprofundada de seus personagens e temas. O filme poderia ter se beneficiado de uma abordagem mais dilatada, talvez em formato de minissérie, permitindo que o público conhecesse melhor as histórias pregressas dos envolvidos antes do momento de ruptura. Ainda assim, é um trabalho que traz discussões relevantes e que se apoia em uma atmosfera de suspense bem construída, mesmo que, em sua execução, recorra a certas convenções do gênero. Não é um filme sem méritos, mas tampouco reinventa a forma de narrar tragédias cotidianas.
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