Há discos que transpiram urgência. Este ruge. O nono álbum do Volbeat não chega ao mundo com as promessas comerciais de um grupo acostumado a grandes palcos, mas sim com o peso de uma banda que resolveu virar a mesa com o punho cerrado. “God of Angels Trust” não negocia com a previsibilidade. É uma obra agressiva, afiada e determinada a sabotar qualquer expectativa de acomodação estética.
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A saída de Rob Caggiano parece ter aberto espaço não para uma ausência, mas para um novo tipo de presença: mais crua, mais direta, mais elétrica. A decisão de gravar em apenas 13 dias, tocando ao vivo no estúdio, se traduz em cada segundo do disco. Nada aqui soa limpo demais, editado demais, confortável demais. É como se a banda, deliberadamente, tivesse decidido gravar com o estômago em vez da cabeça. E essa visceralidade se impõe sem pedir licença.
Michael Poulsen conduz tudo com a segurança de quem já construiu um império sonoro e agora quer incendiá-lo para construir outro, com menos adornos e mais concreto. O álbum é fruto de uma mentalidade que parece ter abandonado qualquer cartilha de composição para reencontrar algo mais instintivo, mais primal. Em vez de reafirmar fórmulas que deram certo, o Volbeat opta por mutilá-las e reconfigurá-las num novo organismo, barulhento, estranho e absurdamente vivo.
Há uma densidade emocional que atravessa a obra inteira. Uma sensação de que o grupo escolheu o desconforto como território criativo. O metal aqui não é estilização; é ferramenta. Serve à arquitetura do caos com disciplina e brutalidade. Ao mesmo tempo, o Volbeat ainda sabe como seduzir: há melodias, há ganchos, há estrutura. Mas tudo isso aparece distorcido por uma névoa mais sombria e por um senso de proporção que coloca peso acima de polimento.
Não se trata de um retorno, nem de uma reinvenção. É uma afirmação: o Volbeat está em outra fase, outra energia, outro tipo de fome. “God of Angels Trust” é um disco que não pede compreensão imediata. Ele exige escuta ativa, resistência e entrega. É o tipo de trabalho que reabre portas que muitos já haviam trancado na discografia da banda, e o faz com uma força que só é possível quando há convicção verdadeira por trás de cada riff, cada virada, cada grito.
No final, o que fica é a certeza de que este é o Volbeat mais ousado desde seus primeiros dias. Só que agora, com o domínio técnico de quem já viu o topo e decidiu voltar à guerra com a própria sombra.
Nota: 88/100
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