“Fragmentado” tenta ser tudo ao mesmo tempo e, nesse excesso, se perde. O novo álbum de Xamã é longo, ruidoso, repleto de interferências e ideias justapostas. É como se o artista resolvesse despejar em 25 faixas tudo que ficou guardado por anos, sem necessariamente organizar esse acúmulo em torno de uma proposta estética clara. A premissa até tem potência: trabalhar a noção de múltiplos eus, explorar contrastes, borrar gêneros, criar uma colagem de identidades. Mas a execução é falha, confusa, inchada.
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É impossível negar a intenção ousada por trás do projeto. Existe, sim, uma tentativa de expandir fronteiras sonoras e testar até onde o rap pode ir quando atravessado por elementos de MPB, rock, trap, pagode e tudo mais que couber. O problema é que “Fragmentado” não filtra. Ele empilha. As referências se atropelam, os feats se acumulam sem respirar, e o próprio Xamã acaba diluído nesse mar de vozes e estilos que se sobrepõem o tempo todo.
A impressão é que o disco nasceu para impressionar mais pelo volume de participações e pela multiplicidade do que pela coesão artística. É um projeto que busca parecer grande antes de ser necessário. Há momentos em que a produção se aproxima de algo interessante, em que os arranjos encontram caminhos originais e há um vislumbre de tensão emocional. Mas esses instantes somem rápido, soterrados por outras faixas que repetem a fórmula do excesso: excesso de ideias, de versos, de intenções, de camadas.
“Fragmentado” até tenta se posicionar como um documento da pluralidade contemporânea, como um reflexo do Brasil urbano, caótico e multifacetado. Mas tropeça na própria ambição e no desejo de ser tudo para todos. Falta curadoria. Falta silêncio. Falta decisão. A sensação que fica é a de um álbum que quer significar demais e, por isso mesmo, quase não significa nada. Há talento, há inquietação, há coragem em jogar fora a forma tradicional. O que falta é saber o que fazer depois que tudo foi quebrado.
Xamã segue sendo um dos artistas mais carismáticos e inquietos da cena atual, mas “Fragmentado” se torna, ironicamente, uma vitrine do que acontece quando um artista se deixa engolir pelas próprias possibilidades. O disco se vende como retrato de um artista em mil partes, mas entrega uma colagem sem unidade, onde cada pedaço fala alto demais e ninguém escuta ninguém.
Nota: 60/100
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