A primeira impressão de “Zona de Risco” funciona como convite para um território onde guerra, caos e ironia convivem no mesmo enquadramento. O filme se apoia naquele tipo de ação que vibra através do som, da fumaça e da adrenalina, mas também se diverte exagerando, tropeçando e retomando o fôlego como se tudo fizesse parte do mesmo espetáculo. O resultado oferece um thriller militar que combina energia visual, personalidade irregular e uma tentativa curiosa de equilibrar brutalidade e absurdo.
A trama acompanha um time deslocado entre dois eixos narrativos, sendo o conflito nas Filipinas o que realmente conduz o ritmo do longa. O segmento em Las Vegas opera mais como comentário lateral do que como ameaça efetiva, e essa divisão introduz uma dinâmica desigual, embora funcional dentro da linguagem escolhida. No centro disso, Russell Crowe entrega um Reaper que mistura charme bruto e cansaço existencial, criando uma figura capaz de prender a atenção mesmo sentado, mesmo conversando sobre basquete, mesmo parecendo entediado com o próprio universo que ocupa. Há algo magnético nessa presença, porque Crowe injeta densidade em um filme que se reconhece como B-action e se diverte com essa condição.
Os coadjuvantes orbitam essa energia com resultados variados. Liam Hemsworth funciona melhor nas cenas mais práticas, sustentando o personagem através do físico e da resposta rápida, mas sem acessar profundidade emocional. A relação entre esses homens, suas falhas, suas escolhas impulsivas e o desgaste psicológico que recai sobre todos eles compõe um mosaico que tenta ir além do óbvio. Em alguns momentos, o filme até flerta com um comentário involuntário sobre militarismo, masculinidade e a forma como decisões frágeis moldam guerras inteiras. Esse tempero quase subversivo aparece em pequenas ironias, como a montagem que alterna tortura no campo com compras de produtos veganos, criando contraste absurdo e eficiente.
As sequências de ação são o motor mais forte da obra. William Eubank conduz explosões, tiroteios e perseguições com precisão, e o filme ganha velocidade sempre que deixa a hesitação de lado para apostar no espetáculo puro. As câmeras mergulham em ângulos agressivos, e a fotografia reforça essa atmosfera tensa com composições que priorizam caos organizado. O problema surge quando a narrativa tenta alongar discussões que não rendem tanto. Com quase duas horas de duração, o longa acerta no ritmo físico, mas se prolonga emocionalmente sem a mesma convicção.
Mesmo assim, existe um charme particular em acompanhar uma produção que não tenta esconder seus excessos. “Zona de Risco” opera no limiar entre o filme de guerra ruidoso e a crítica involuntária ao próprio gênero. O resultado diverte, entrega tensão consistente e oferece uma performance de Russell Crowe que segura a estrutura inteira quando tudo parece à beira do colapso.
“Zona de Risco”
Direção: William Eubank
Roteiro: William Eubank, David Frigerio
Elenco: Russell Crowe, Liam Hemsworth, Milo Ventimiglia
Disponível em: Netflix
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