Duda Beat nunca foi de seguir o caminho mais fácil. Poderia repetir fórmulas que deram certo e viver em eterno replay dos sucessos passados, mas prefere arriscar, testar novos contornos para sua música e para quem é como artista. O novo single “Nossa Chance”, lançado em parceria com TZ da Coronel e produzido por Tomás Tróia e Lux Ferreira, revela justamente esse espírito inquieto. A faixa serve como o primeiro aceno do EP que ela prepara e carrega uma mistura que é toda dela: pop melódico em diálogo com um baixo funkeado e as rimas carregadas de malandragem do rapper fluminense.
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Só que o que mais salta aos olhos não é o feat, nem o beat, mas a própria postura de Duda diante deste momento da carreira. “Esse EP é um EP onde eu quero me divertir, sabe? Trazer ritmos que eu curto, que me fazem bem”, confessa, quase num suspiro que parece alívio. Depois de projetos que a colocaram em universos distantes, cenários que mais pareciam saídos de delírios oníricos ou quadros barrocos, a artista se permitiu ser mais simples, mais próxima, mas sem abrir mão do capricho.
Ela faz questão de esclarecer que esse não é o tão aguardado “DB4”, o disco novo que só chega no ano que vem. O EP é um respiro, um presente que ela oferece aos fãs para não ficar tanto tempo sem lançar nada. “Foi muito mais uma forma de eu não ficar tanto tempo sem lançar, dar esse presente para os meus fãs nesse meio tempo, entre um trabalho e outro. E me divertir também”, diz, sublinhando o peso que o carinho pelo público tem em cada passo que dá.
Duda revela ter mudado a equipe criativa para esse projeto e reconhece o impacto disso. O visual, ainda sofisticado, tem menos a ver com o lugar de musa inalcançável que ela ocupava em outros discos e mais com um desejo genuíno de estar presente no agora, abraçando quem ela é de verdade. “Eu estava sempre em lugares que não existem de verdade. Sempre fui essa musa totalmente fictícia, cheia de mangas bufantes, roupas que eram maiores do que eu. Agora eu quis estar mais próxima do que é meu íntimo, do que vivi, dessas relações, do que é meu mesmo”.
O planejamento também foi pensado para que a transição não fosse brusca demais. Duda sabe que construir público leva tempo e que mudar o som de forma abrupta pode confundir quem a acompanha desde o início. Ela fala sobre isso com uma franqueza rara no mercado. “Eu estou tentando ser muito paciente, conter a minha ansiedade quanto aos próximos lançamentos. Esse EP conversa muito com o público que está comigo, que tem estado junto comigo. Para depois vir a coisa mais brasileira, que eu sei que tem um público que sentiu falta disso no meu terceiro álbum. E eu ouvi esse público”, garante, mostrando o quanto observa atentamente quem a ouve.
Essa ponte é construída com delicadeza. Apesar do flerte com beats que fogem da MPB tradicional, Duda não esquece de onde veio. “Eu nunca abandonei o Brasil. O que eu escrevo é Brasil. Eu tenho minha voz, meu sotaque. Nesse EP tem violão, harmonias extremamente brasileiras. Eu não acho que abandonei em nenhum momento”, afirma. Para quem sentiu falta daquela Duda do samba, do pagode, da sofrência, ela faz um afago: o disco mais brasileiro chega em 2026.
Por enquanto, ela se permite curtir o momento, experimentar, surpreender. “Eu tenho um público tão maravilhoso, que conversa tanto comigo, que embarca um pouco nas coisas que eu faço. Eles meio que já pressupõem que eu vou surpreender. Isso é muito maravilhoso”, diz, com aquele tom orgulhoso de quem construiu não só uma carreira, mas uma relação de cumplicidade.
Entre a ansiedade de quem cria e o cuidado de quem respeita seu público, Duda Beat vive talvez o momento mais genuíno da carreira. Se nos primeiros discos o olhar era para fora, construindo cenários grandiosos e fantasiosos, agora o foco está voltado para dentro. E é justamente daí que nasce a liberdade mais bonita: a de ser quem se é, sem máscaras, sem personagens e sem medo.
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